Charlotte
Charlotte caminhava pra escola após suas recentes aventuras devolvendo aquela boneca para a loja de Oliver. Por pouco ela conseguiu, por pouco.
Como de costume ela ia para a escola, assim como Jack, bem mais cedo do que o prazo estipulado.
Charlotte pegou seu celular no bolso, colocou os fones e colocou uma música que combinava bem com seu estilo de vida.
Ela mexia a cabeça conforme a batida tocava.
-Esta não é uma canção para quem tem o coração partido... - Ela andava dançando como uma louca.
-Não é uma oração para quem perdeu a fé - O vento batia nos seus cabelos enrolados enquanto ela continuava cantando.
E ela continuava seguindo, com a maior energia possível, até a escola.
-Meu coração é como uma rodovia aberta, Como Frankie disse - Ela parou de cantar.
Nada fazia ela parar de cantar. Literalmente nada. Mas seus dedos desligaram a música quando seus olhos viram Jack com sua irmãzinha.
Jack olhou para a direção dela e acenou, com um sorriso tímido e simpático.
Ela retribuiu com um sorriso tímido e aberto.
Charlotte atravessou a rua para ir de encontro com seu ''amigo'' novato.
-Ei. Tudo bem? - Jack pôs todo seu corpo para recebe-la com um abraço.
-Oi - Charlotte estendeu a mão para apertar sua mão.
Sem dúvidas, isto foi humilhante. Para os dois.
Eles ficaram um pouco tímidos e Jackson ficou vermelho como um tomate.
Zoe, a irmãzinha de Jack ficou rindo da situação.
-Então... - Jack tentou iniciar um diálogo - ficou tudo bem? Sabe, ontem você parecia...
-Maluca? - Ela deu uma sugestão.
-Não... não maluca... triste.
Os dois se sentaram no chão, encostados em uma casa com a brisa fria batendo em seus semblantes.
-É... sabe. Eu não sou a menina que você pensa que eu sou. - Ela passou a mão nos cabelos enrolados. Mas não mais enrolados que Jack, com esta frase.
-E que garota você é então? A do tipo que rouba livros na noite e estuda eles de manhã? - Jack soltou um riso.
Charlotte queria contar a verdade. Queria, mas não sabia como. Confiava muito fácil nas pessoas, e confiou muito mais fácil em Jack. Ele era como seu porto seguro, onde tirava suas cargas pesadas de seu coração e soltava para ele.
-Não. A do tipo que rouba comida a noite e as leva pra crianças sem ter o que comer de manhã. - Ela olhou nos olhos dele. Ela falava a verdade.
Jack olhou nos olhos dela.
Ele começou a rir como um louco.
Ela, desconcertada, começou a fingir rir também para ele não ficar mal rindo sozinho.
Quando pararam de rir, Jack sentiu uma grande coragem interior.
-Charlotte. - Ele falou numa voz suave.
Ela olhou para ele, esperando o que viria.
-Sabe, a gente podia ir em algum lugar hoje mais tarde. Quem sabe ficamos um pouquinho na praça? Podemos nos conhecer melhor ou uma coisa assim. - Ele fez o convite.
-Claro. Por que não? - Ela sorriu.
Ele também sorriu.
Ficaram um tempo vendo o semblante do outro.
-Se beijem logo. - Disse Zoe, que foi completamente deixada de lado pelo irmão.
Jack ficou envergonhado e Charlotte abafou o riso.
De repente, uma mensagem apareceu no celular de Charlotte.
Bar do Rodrick agora.
Chris
-Droga... eu já volto. - Disse Charlotte, insatisfeita.
-Vai aonde? - Jack queria saber.
-Não precisa se preocupar, vou ver um amigo.
A expressão de Jack caiu tão rápido como um pássaro pousando. Um amigo, é.
Ela conseguiu ver nele um ciúme que ela nunca jamais vira.
-Tudo bem... - Ele respondeu, tentando parecer normal.
Charlotte ficou paralisada. Ela tinha duas opções: uma ela poderia fazer mas depois ficaria arrependida. A outra... bem, a outra ela ficaria feliz mas envergonhada.
A vergonha impede as pessoas de realizarem grandes feitos, pensou Charlotte. Vira essa frase numa rede social que não se lembrava.
Ela começou a suar.
-Você tá bem? - Jack quis saber, mesmo que magoado.
Charlotte se abaixou tão rápido como o vento e beijou os lábios de Jack. Ele não expressou nenhuma reação, apenas consentiu. Um segundo depois, sem dizer nenhuma palavra, Charlotte arrumou o cabelo e saiu correndo como um leopardo, fora da vista de Jack.
Ele a ficou olhando, com o semblante paralisado.
Depois de alguns minutos, ela chegou no bar do Rodrick. O bar estava totalmente vazio e a porta estava trancada.
Charlotte levantou a janela, que estava sempre aberta e entrou no bar.
O bar parecia muito velho e havia muito mofo nele. Possuía uma bancada no final e um lustre bem dos anos oitenta em cima. Várias mesas a circundavam e algumas bebidas ainda estavam na mesa.
Isso para não falar do cheiro. O cheiro era péssimo. Parecia que alguém tinha vomitado no chão.
Uma sombra surgiu de uma porta que se abriu de repente.
-O que você quer? - Disse Char, a gata.
-Eu quero meu dinheiro e um pedido de desculpas que eu considere, no mínimo, sincero. - O garoto que Charlotte havia prendido no armário estava de volta. Mais irritado do que nunca.
-Eu não tenho dinheiro. Mas tem umas bebidas aqui, que tal beber uma? Não seria difícil pra você quebrar outra regra, não é? - Charlotte o provocou.
-Não, não seria. - Ele estalou os dedos.
De repente, quatro pessoas entraram no bar.
Um entrou pela porta, era alto e bem forte. Tinha a cabeça raspada e uma cicatriz na testa. Era assustador.
Outro entrou pela janela. Este era baixinho, um pouco maior que Apolo, e tinha nas mãos um pé de cabra.
Por fim, outro entrou no bar. Este tinha uma barba que chegava até suas pernas e tinha um cabelo grisalho bem liso. Seus olhos eram mortos e pelo que parecia, seus sentimentos também. Este, em especial, dava medo em Charlotte.
-Ei, ei ei... vamos com calma... - Ela começou a recuar.
-Vamos sim. Se você me der o dinheiro e me pedir desculpas. - Disse o garoto. Chris era o nome dele.
-Olha, eu não tô com dinheiro aqui... mas eu prometo que vou pegar quando eu sair daqui... - ela pareceu amedrontada.
-Quando você sair daqui, ou vai ser bem feliz por estar viva, ou vai ser rastejando com uma perna quebrada. Dica: a opção um se ganha com dinheiro. - O homenzinho disse.
-Tem o dinheiro aí? - Disse o primeiro homem.
-Não... não tenho... - Ela queria chorar, mas não conseguia e não podia.
O pequeno homem avançou nela e ergueu o braço para bater com o pé de cabra na sua perna.
Ela saltou, rolou para a direita e pegou uma garrafa de vidro.
-Ei! Não era pra machucar ela, era só pra pôr pressão! - Chris disse, mas não foi ouvido.
-E não era pra você nos ditar regras. - Disse o homem sem expressão nos olhos.
Charlotte quebrou a garrafa que pegou na mesa e ameaçou o homenzinho.
-É melhor você se afastar. - Ela tentou ameaçar. Não conseguia, era muito fofa para isso.
-Não. É melhor você se afastar, docinho. - Ele abriu um sorriso sádico.
Neste instante, Charlote ouviu um barulho de vidro quebrado e o vidro pelo qual entrou soltando estilhaços. Depois disso, tudo aconteceu muito rápido.
Um vulto amarelo, azul e branco avançou sobre o homenzinho e o desarmou, jogando ele no chão e o dominando.
O mesmo vulto jogou o homenzinho na parede e correu para o homem alto e careca.
Ele, com um soco que poderia arrancar a cabeça de alguém, se projetou para atacar o vulto, mas o mesmo se esquivou e deu uma rasteira nele. No instante que caia, o vulto o jogou contra o balcão, fazendo-o ultrapassa-lo.
Chris neste momento correu o mais rápido que podia e saiu do bar pela porta de onde saiu.
Era a vez do ''homem de olhos mortos''. Este, puxou uma faca do bolso e não teve como reagir ao ataque do vulto azul que viria. O vulto pulou nele e chutou seu peito com tamanha força que o homem de olhos mortos, ao bater na parede, produziu um estrondo gigantesco no bar, deixando cair alguns quadros.
Charlotte viu tudo passando diante dos seus olhos, sem acreditar.
O vulto agora podia ser visto. Era um homem. Tinha uma estrela no peito e uma máscara cheia de estrelas.
-Corra, menina. Corra. - Ele disse enquanto socorria o homem que acabara de levar o maior chute que já recebeu. O homem parecia bem, segundo o homem que salvou a vida de Charlotte.
Charlotte, enquanto corria, reparou que o braço daquele homem, estava dolorido. Parecia que havia levado um tiro de raspão ou algo do tipo.
Charlotte correu freneticamente até a escola, onde Jack a esperava no mesmo lugar em que foi deixado.
Ela correu mais ainda ao ver, e quando chegou perto dele, pulou nos braços dele, o abraçando com a maior força que tinha enquanto chorava oceanos.
Jack cedeu ao abraço enquanto passava a delicada mão nos cabelos delicados e enrolados de Charlotte.
Ele a apertou em seu peito , dizendo:
''Tá tudo bem, tá tudo bem...''