Mais uma vez com Cartas de Ashley.
Cartas de Ashley são alguns dos melhores momentos da minha história ''Estrelas do verão'' que posto de algum em algum tempo. Espero que gostem 
Ashley cruzou sua perna esquerda e olhou para mim.
-Vamos jogar um jogo? – Ela perguntou.
-Tudo bem por mim. – Me sentia um pouco presa em falar com ela por causa da Charlotte.
-O que você acha que tem nas minhas mãos? Te dou as roupas da Charlotte se acertar.
-E também fica com o chapéu, a jaqueta e as botas dela. – Charlotte interrompeu.
Ela sorriu discretamente e me fez um sinal com os olhos para eu tentar adivinhar.
-Uh... eu não sei. Sei lá, tipo um... – Olhei para a janela quebrada. – um caco de vidro? – E comecei a rir.
Vi que Charlotte ficou muito séria de repente e Ashley olhou para baixo.
Ela tirou os braços cruzados das costas lentamente, revelando as mãos enfaixadas e super ensanguentadas, bordando o branco da proteção em vermelho.
Fiquei boquiaberta e mais séria que Charlotte. Não tirava os olhos do sangue de suas mãos e não conseguia falar nenhuma palavra. Era muito sangue, principalmente na mão esquerda.
-Ashley, eu... – Olhei para a janela e só aí fui me tocar que provavelmente eu teria falado a pior coisa para se dizer naquele momento. Isto somado com meus risos.
-Fica tranquila, tá tudo bem. – Ashley interrompeu minha concentração.
Ela começou a tirar as faixas que envolviam sua mão e eu fiquei com medo do que eu veria depois que ela acabasse. Pelo visto, Charlotte também.
-Cara, essa porcaria arde. – Ela estava quase terminando de tirar a faixa da sua mão esquerda.
Charlotte sussurrou alguma coisa no ouvido de Ashley que eu não consegui escutar.
-Preciso sim, Char. – Ashley falou em voz alta. – Você pode ver sangue, Beth?
Eu mordi os lábios e fiz que sim com a cabeça, ainda preocupada e com receio.
Quando ela já ia tirando a faixa, Charlotte segurou a mão dela para parar.
-Eu não consigo ver isso, Ashley. – Ela olhou para mim rapidamente. – Eu já vou indo.
A expressão de Ashley ficou séria e triste e ela concordou com a cabeça.
-Até mais então. – Ashley arqueou as sobrancelhas.
-Até. – Charlotte saiu andando como se estivesse marchando para abrir a porta e sair do quarto.
Quando ela saiu, Ashley olhou para minhas mãos nos joelhos.
-Você também quer sair? – Ela perguntou.
Eu queria. Queria de verdade. Aquilo me perturbava e tinha medo se aquilo que eu veria me causaria um trauma ou mais uma coisa para ficar pensando enquanto tentava dormir.
-Não. – Respondi contra a minha vontade.
Ashley continuou removendo sua faixa e acabou puxando-a com demasiada força, fazendo com que a ferida queimasse sua pele.
-Droga! – Ela gritou não muito alto e fechou os olhos, cerrando os dentes. Aquilo parecia ter doído.
Eu ficava mal em ver ela mal desse jeito. Me fazia pensar que talvez meus problemas não fossem tão problemáticos. Me fazia pensar que eu poderia ser uma sã comparado a Ashley (o que era irônico no final das contas).
-Por que você tá fazendo isso? – Perguntei.
Ela recuperou a consciência e olhou para mim. Sem resposta. Continuou tirando a faixa.
Enfim, ela tirou tudo e a jogou no chão de qualquer jeito.
-Ashley... – Coloquei a mão na boca e arregalei os olhos ao ver a mão dela.
Eu não vou descrever o que eu vi, pois era perturbador demais. A única coisa que eu vou falar, é que ela tinha um corte bastante profundo na palma da mão e os dedos dela... bem, os dedos dela não estavam tão bem quanto os meus.
Ela ficou olhando para a mão dela e me pareceu que ia chorar, mas não chorou.
-Eu quero que você saiba que todo mundo tem problemas, Beth. – Ela falou para mim, ainda olhando para a mão. – Você não é a única que tem fantasmas te assombrando.
Eu queria saber do que ela estava falando, mas não conseguia falar e nem tirar os olhos da mão dela.
Ela olhou fixamente para os meus olhos. Quando eu olhei para os dela, eles estavam vazios, sem nenhum brilho ou qualquer sinal de felicidade ou esperança em alguma coisa. Vi uma lágrima descer do céu azul dela e ir direto para sua boca.
A cada segundo que se passava ela parecia ficar mais desolada e triste. Ela queria me mostrar aquilo para que eu me sentisse melhor com o que eu tenho, mas ela mesma estava ficando pior com o que ela tinha. É algo que não se vê muito nos dias de hoje.
Saí da cama de cobertor preto e fui direto para o encontro dela, onde passei meus braços por debaixo dos dela e agarrei seu corpo, dando-a um abraço apertado. Minha cabeça estava no ombro dela.
Ela, com dificuldade, assentiu o abraço me envolvendo com o braço direito e começou a passar a mão destruída dela nos meus cabelos. Eu não sabia se aquilo doía nela, mas sua mão estava tremendo e seu sorriso parecia estar aparecendo timidamente.
Eu senti vontade de chorar por ela, mesmo que não soubesse o que tinha de fato acontecido.
Pude sentir que ela estava olhando a foto na mesa enquanto me acariciava. Isso e que ela estava tentando o máximo possível conter um rio de lágrimas que desceriam aos poucos.
-Tá tudo bem, Ashie. – Ela agarrou uma mecha de cabelo meu com força enquanto tentava não chorar.
-Vamos enfaixar sua mão. – Saí de seus braços e segurei com cuidado a mão destruída dela. – Onde você guarda as faixas? Ou até uma bandagem, eu só... só preciso de alguma coisa.
