Apolo
Apolo andava pelas ruas da cidade acompanhado por dois seguranças bem mais altos que ele. Afinal, Apolo não era uma pessoa grande. Era um ''pequeno grande homem''. Um segurança era branco e forte, com cabelos negros jogados para trás enquanto o outro era negro, careca e possuía um olhar de Medusa.
Uma menina vinha correndo na direção de Apolo, segurando uma boneca.
-O que uma menina como esta faz carregando uma boneca, rapazes? Conseguem adivinhar? - Apolo perguntou com uma voz sugestiva.
-Talvez ela tenha roubado. - Disse um segurança.
-Ou só está brincando com ela. - Disse o outro.
Apolo levantou as sobrancelhas e gritou a garota.
-Ei garota!
A garota olhou para ele.
-Venha aqui! Um minutinho apenas - Ele tentou parecer cortês
A menina parou de repente, escondeu a boneca e foi até o caminho dele, caminhando devagar.
-Aposto duas moedas de ouro que não é nenhuma dessas hipóteses. - Apollo disse para os rapazes.-
A menina chegou perto dele, parecendo tímida.
-Qual o seu nome? - Apollo disse, parecendo gentil.
-Charlotte. - A menina disse, olhando para o pequeno homenzinho.
-Nome bonito. Charlote significa ''aquela que é forte'' ou ''mulher do povo''. Depende da escrita. Sabia disso, garota?
-Não... não senhor... - ela olhou para baixo.
Apolo abriu um sorriso horrível no rosto.
-Por favor, me chame de Apolo.
-Eu fiz alguma coisa de errada? - Disse Charlotte.
-Não sei. Me diga você. - Apolo levantou as sobrancelhas de novo.
-Como é?
-Se você visse uma menina correndo com uma boneca no meio da rua, o que diria que ela estava fazendo?
-Eu não est... - Charlotte tentou falar mas foi interrompida.
-Eu apostei duas moedas de ouro por você. Vá, me diga. O que acharia que ela estava fazendo?
-Provavelmente brincando...
Um segurança parecia confiante que ganharia duas moedas de ouro.
-Mas não é isto que você estava fazendo, não é? - Apolo começou a interroga-la.
-Era... - Charlotte caiu no velho truque de Apolo
-Tudo bem. - Apolo pareceu satisfeito.
A garota deu se virou desconcertada e voltou a andar.
-Um mentiroso conhece o outro. - Ele disse com um sorriso no rosto.
Charlotte começou a suar e virou-se novamente para o homenzinho.
-Mas eu não sou um mentiroso. - Ele começou a andar em volta da menina. - Eu sempre penso uma coisa: quem tem algo, conhece-o melhor do que ninguém. Eu tenho o valor de ser honesto e verdadeiro, contando apenas verdades. Portanto, conheço uma pequena mentirosa.
Charlotte ficou paralisada. Não movia nem as pernas.
-Pode ir agora. - Apolo fez um sinal de despedida e a garota saiu correndo.
Um segurança pareceu ainda confiante, cobiçando as duas moedas.
-Bom... acho que ganhei duas moedas.
-Tudo bem. Adiciono elas quando for pagar seu salário. - Apolo com seus pequenos passos disse num tom de humor.
-Não é você que paga meu salário... - O segurança tentou ser mais esperto.
-Exatamente.
Os três começaram a rir.
Quando o sol estava quase se pondo, Apolo e os seguranças chegaram ao seu destino.
-Eu tenho mesmo que ir aí? Eu, particularmente, acho uma grande perda de dinheiro. - Apolo olhou para cima enquanto via uma placa ''Psiquiatra Henry.''
-Não somos pagos pra decidir isso. -Um segurança disse.
-Vocês me conhecem, eu não preciso disso. É sério. - Apolo tentou parecer convincente. - Vocês não precisam me deixar entrar lá. Quem sabe, passamos em um bar aqui perto... ou coisa do tipo?
-Entra logo, cara. - Disse um segurança, parecendo raivoso agora.
-Sabiam que vocês são muito chatos? - Ele entrou enquanto os seguranças foram atrás.
Apolo, que era um homem baixo a princípio, tinha um cabelo curto e olhos castanhos. Com pequenas pernas, dava grandes passos quando estava apreensivo e sob pressão, como era o caso agora. Agora, o pequeno homem andava até a secretária para ser atendido.
-Illys. Que prazer em te ver. - Apolo abriu um sorriso. - O doutor se encontra? Está me esperando ou eu que estou esperando ele?
-Apozo. Bom te ver. O doutor Henry está te esperando há dez minutos em sua sala.
-Obrigado, querida. E é ''Apolo''. Com a letra l. - Apolo deu uma piscadinha com o olho direito e andou até a sala do doutor, fazendo um gesto para os seguranças ficarem esperando a consulta acabar.
Os seguranças pararam enquanto Apolo passava pela porta do doutor Henry.
-Boa tarde, doutor. E não me chame de Apozo, já estou farto de confundirem meu nome. - Ele disse em tom humorístico
-É... Illys não é muito boa com nomes... mas pois bem, boa tarde Apolo. Como vai? - Um homem velho de longos cabelos brancos e uma grande barba apertou a mão do homenzinho.
-Vou bem doutor, e você, vai bem? Pode ser um grande estresse psicológico me atender, você já sabe. Eu posso facilitar essa etapa se facilitar pra mim. - Apollo colocou os bracinhos na mesa e levantou a cabeça pra ver o doutor, enquanto se sentava numa cadeira.
-Recuso a proposta, obrigado Apolo. - O doutor disse, parecendo mais sério, com os olhos azuis de águia atacando Apolo por dentro. - Você já sabe por que estamos aqui. Lhe falo isto toda a consulta.
-E toda a consulta eu insisto que meu irmão está errado. Vamos de novo? Eu gosto desta parte. - Apollo respondeu, se esquivando do que o doutor queria ouvir.
-Apolo. Seu irmão quer o seu bem. - O doutor se sentou numa cadeira na frente dele. - Você tem uma grande ansiedade e isso algum dia vai te matar. E olha, não é só a ansiedade. Se eu fosse listar tudo, demoraríamos um dia inteiro.
-Se meu irmão quisesse meu bem ele não contrataria dois seguranças pra me levar a força, me levaria com sua cara limousine com um drink adicional. Não acha? Um brinde aos irmãos! - Apolo fez um gesto de como se estivesse brindando com um copo.
-Eu não tenho irmãos. Mas sabemos que são do mesmo sangue. Vocês são família, e a família deve se unir. Todos temos defeitos. O seu é achar que sempre está certo, enquanto o meu é o mesmo. Então somos pessoas difíceis, sabe.
-Eu não acho que sempre estou certo. Quer dizer, na maioria das vezes eu estou mas...
-Basta Apolo, basta. - O doutor interveio - Olha, meu objetivo aqui é fazer com que você se sinta feliz. Procurar e resgatar a sua felicidade perdida nesse seu grande e estúpido cérebro ganancioso. Quero que você se sinta confortável aqui e me diga qual você acha que é seu problema para estar aqui?
-Quer saber mesmo? - Apolo pareceu sério.
O doutor fez sinal de que estava ouvindo.
-Meu problema é que eu tenho um irmão que não me escuta. Veja só doutor, eu tenho vinte e oito anos e estou aqui, não por vontade própria, mas porque contrataram dois seguranças para me levar. Pagam uma fortuna para eles me levarem e se eu resistir, corro o risco de ter metade dos meus dentes quebrados. Vindo aqui, eu digo ''eu não tenho nenhum problema. Ou melhor, nenhum problema que o senhor possa resolver, com todo o respeito'' e você me fala a mesma coisa, ''Apolo, todos temos problemas'', ''todos passamos por dificuldades'' - Apolo se levantou da cadeira e olhou nos olhos do doutor, parecendo irritado - Você me diz tudo aquilo que eu já sei. Meu problema é que eu não sou levado a sério. Não sou considerado um ser-humano, sou considerado um animal. Uma bomba relógio que não explode. A mesma que as pessoas veem e tiram fotos ao mesmo tempo que ficam desesperadas se perguntando quando ela vai explodir. Você, doutor, é o homem que tenta desarmar essa bomba, mas não há nada pra desarmar porque a bomba não vai explodir.
-Apolo... - Tentou começar o doutor
-Eu quero que você saiba. Eu quero que você saiba que eu não tenho nada contra o senhor, doutor. Eu só queria que pelo menos uma vez nestas malditas consultas sem razão, você me ouvisse. Você é um excelente profissional, mas um péssimo ouvinte. - Ele sessou o desabafo. - Desculpe. Isto não foi gentil. - disse ele, agora mais calmo.
O doutor abriu um sorriso e começou a fuçar debaixo de sua mesa. Encontrou e pegou duas garrafas de vinho e deu uma aberta para Apolo.
-Era isso que eu queria, meu garoto.
Apolo sorriu também e bebeu junto com o doutor. E assim foi o resto da consulta.
Quando a consulta acabou, Apolo deixou a garrafa na mesa do doutor e se despediu dele.
Ótima consulta, pensou Apolo.
Ele saiu andando até a recepção e viu que os seguranças não estavam lá mais.
-Por que tão grandes e tão burros... - Disse Apolo. - Posso me sentar aqui do seu lado, menino? - Ele perguntou pra um menino sentado sozinho.
-Pode, sim senhor. - Respondeu o menino.
-Por favor, me chame de Apolo. Qual seu nome? - Ele sorriu pro garoto.
-Liam.
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. E sim, ansiedade realmente é um problema grave. É necessário procurar ajuda quando se passa por isto.
