-Que grande dia! - Apolo havia acordado com grande disposição enquanto olhava pro sol despertando os que ainda dormiam. - Onde estou? - Ele olhou em volta. - Isso não é a casa do meu irmão.
Apolo via um estabelecimento completamente abandonado. Parecia-lhe um armazém que não possuia nada além de várias pessoas dormindo no chão (onde a grande maioria não era arrumada e também não tinha bom cheiro).
''Quem são essas pessoas?'' Apolo pensou.
-Fica quieto! Tô tentando dormir! - Uma pessoa no fundo do armazém gritou, sem ver quem estava falando. - Espera, é você Apolo? Foi mal cara... - A voz voltou a tentar dormir
-Isso está parecendo o começo de um filme pra adolescentes... - Apolo passou a mão no rosto e tentou se por de pé.
-Ei! Cuidado aí! - Apolo havia pisado na mão de alguém
-Desculpe! - Ele havia se assustado mais que o homem.
Apolo saiu de uma multidão de corpos que estava jogada no chão dormindo e tentou sair do lugar sem fazer nenhum barulho.
-Já vai indo? Sem se despedir? - Uma voz chamou por ele.
-É, parece que vou. Parece que eu fiquei bêbado e dormi em qualquer lugar junto com esse pessoal adolescente... - Apolo passou a mão na cabeça sem ver a pessoa que o chamava.
-Você cai muito fácil. - A voz falou, dando uma risada.
Apolo se virou e viu um homem com grande cabelo e uma grande barba.
-Eu lembro de você. - Apolo reconhecia o homem.
-Sim, eu também me lembro de você, Apolo.
-Então pode me dizer o que aconteceu aqui, meu bom senhor?
-Meu nome é Yera. Um tanto quanto incomum, mas enfim... - O homem deu uma pequena risada abafada e tossiu. - Então, você devia se lembrar de ontem já que você não bebeu nada. Diferente de nós...
-Espera, esse pessoal inteiro estava bebendo nesse estabelecimento? Tivemos quantas baixas? - Apolo perguntou com preocupação.
O homem riu.
-Nenhuma.
-Ainda bem. - Apolo olhou pra uma grande porta. - Olha, o papo está legal e eu não sei o que está acontecendo, mas tenho que voltar pra casa do meu irmão...
-Aquele riquinho? - Yera pegou uma garrafa jogada no chão. e começou a beber.
-É. Ninguém jamais conseguiu descrever tão perfeitamente meu irmão. Meus sinceros parabéns. - Apolo já se rumava para sair.
-Espera aí, homenzinho. - Ele fez um sinal para Apolo parar. - Esse pessoal todo aqui se moveu pra te ajudar naquele banco. Você sabe o motivo, não é? Não chegamos a falar sobre isso.
Apolo era esperto, mas não era vidente para prever o que Yera falaria a seguir.
-É porque eles gostam de um homem baixinho e de pessoas presas em bancos?
-Não. É porque eles gostam de pessoas que os ajudam. -Ele se agachou pra ficar na mesma altura que Apolo. - Cá entre nós, você é praticamente a única pessoa de toda a cidade que nos da mais que algumas moedas. Somos extremamente gratos àqueles que nos dão essas moedas, mas mais ainda a você.
Apolo fez que sim com a cabeça, dando a entender um ''obrigado''.
-Vamos pra fora, precisamos conversar.
-Tudo bem, já estava indo pra lá mesmo.
Yera abriu a grande porta do armazém, que produziu um grande barulho.
Apolo e Yera foram para fora enquanto as pessoas dentro do armazém acordavam reclamando.
-Melhor não voltar para lá. Eles estão estressados agora. - Apolo olhou pros prédios da cidade, os quais eram visíveis do lado de fora do armazém. - Fazem você se sentir baixo, não é?
-Fazem. - Yera confirmou com a cabeça. - Mas pequenas pessoas estão aptas a fazer grandes coisas.
-Obrigado. - Apolo sorriu. - Agora, o que queria me falar?
-Estava pensando que você poderia nos ajudar um pouco mais. Ajudar todos dessa cidade um pouco mais. - Yera ficou sério.
-E como eu poderia fazer isso? - Apolo ficou curioso.
-Ficando num cargo capaz de dar um prédio desses pra gente. - Yera olhou para o prédio. - Veja bem, foi só um exemplo, não queremos um prédio.
-Do que estamos falando?
-A cidade está suja, e só os cegos não veem isso. A política dessa cidade fede como eu quando começo a beber.
-Concordo. - Apolo achou graça naquilo.
-Eles dizem que farão algo para a classe pobre, que ajudarão os que mais precisam, que farão a cidade se tornar algo ótimo. Todos nós sabemos que é mentira. - Apolo ainda olhava o prédio, junto com Yera. - O curioso é que as pessoas sabem disso mas não movem um dedo. - Ele voltou seus olhos pra Apolo. - Veja bem, as pessoas que no mínimo tem uma casa aqui não ligam para os outros. Reclamam do governo quando na verdade eles são tão hipócritas e terríveis como nossos governantes.
-Não estou entendendo... - Apolo tinha uma ideia, mas não entendia o que Yera realmente queria dizer.
-Eu dificilmente confio em algum governante que divulga as boas ações que faz. Se fosse um bom governante, guardaria pra ele essas boas ações e estimularia a população a fazer o mesmo, sem tentarem parecer pessoas perfeitas nos jornais, televisões, internet e esse tipo de coisa. - Ele fez uma pausa. - Eu lidero esse povo há dois anos, tirando meu prato de comida pra dar algo de comer às crianças e à essas pessoas. Você, o que faz pra ajudar eles?
-Eu tenho dinheiro. Dinheiro que ajuda esse povo. - Apolo estava inseguro a falar isso.
-Sim. Mas você faz algo a mais... - Ele parou pra tomar mais um gole. - O que é?
-Olha, eu acabei de acordar num lugar que eu nem sei aonde fica, pode poupar meu trabalho de pensar? - Apolo não gostava de não saber a resposta das coisas.
-Nos da determinação. Um homenzinho pequeno como você da algo pra uma família grande ficar bem por dias, semanas, meses... você salva nossas vidas todos os dias, rapaz.
-Obrigado novamente. - Apolo fixou os olhos na face velha de Yera.
-Eu diria que você é um herói,
Os dois se encararam.
-Sabe, há um tempo atrás eu conheci uma moça... o nome dela era Helena. A melhor pessoa que já vi nessa Terra... - Yera tentava imaginar Helena. - ela era alta, de cabelos cacheados e tinha olhos tão lindos como pérolas... no dia que eu perdi tudo que eu achava que era de grande valor pra mim, ela fez eu entender que a vida tem um propósito melhor. Um propósito maior.
-O que essa Helena fez? - Apolo pareceu curioso. - Parece boa pessoa.
-Helena todos os dias tirava dezenas de pessoas da rua para acolhe-las na sua casa... as alimentava, as cuidava como filhos... tentava fazer o povo entender o mesmo que eu entendi. Tentava mostrar pro povo quem lhes prendia nas correntes do mundo. Eles eram burros de mais pra entender isso...
-Não me lembro desta mulher.
-Claro que não. A mídia e a imprensa censuravam o que ela fazia.
-Por que? Não me parece algo que precise ser censurado.
-Questões políticas, questões que envolviam egoísmo... questões humanas. O que quero que você faça é bem simples: vire o prefeito dessa cidade.
-Redefina os seus conceitos de ''simples''. - Apolo deu uma sugestão.
-Eu analiso muito bem as pessoas, em modéstia parte, e eu digo e repito: eu confio em você. Você é um herói. Você guiaria essa cidade pra algo melhor que ótimo... pense só no que você poderia fazer.
-Eu não sou um político... muito menos um líder.
-Um líder diz isso, um político não. Não queremos que você seja um político, queremos que você seja o Apolo. Porém, que seja o mesmo Apolo que conheço na presidência.
-Bom, pensarei nisso. - Apolo estava convicto de que a resposta era um grande não, mas preferiu não dizer isso.
-Você vai reconsiderar, eu sei. - Yera bebeu mais um gole. - Eu também era assim como você até conhecer essa Helena.
-Ela ainda está viva?
Yera ficou triste repentinamente.
-Não sei. Se está, a morte seria melhor... pobre coitada...
-O que quer dizer com isso? - Apolo ficou preocupado.
-Não gosto de falar sobre isto. Até mais, Apolo - E Yera entrou novamente no armazém com a garrafa.
-Helena... - Apolo falou para si mesmo e caminhou até um destino incerto.
Depois de caminhar um pouco, ele pegou seu celular e ligou para o seu irmão.
Seu irmão não atendeu.
-Bem, só nos resta caminhar.
Depois de um longo dia tentando encontrar o caminho de casa, Apolo conseguiu encontrar a casa do irmão quase de noite.
Ele tocou a campainha feita de ouro da grande mansão de Lanir.
-Lanir! - Apolo gritou. - Abra logo a porta!
A porta se abriu.
Porém, não era Lanir.
-Pai... o que faz por aqui?
-Apolo, se retire daqui. Por favor. - O pai de Apolo falava com voz melancólica.
-Como? O que você está dizendo? - Apolo não entendeu.
-Saia daqui e não volte mais. Você não é mais meu filho. - Disse o pai dos irmãos.
-Você está ouvindo o que diz? Como pode me falar uma coisa dessas pai?
-Não me chame de pai. - Se fez uma pausa. - Como você pôde... eu sempre te amei Apolo...
-O que eu fiz? O que droga eu fiz dessa vez? - Apolo ficou indignado sem saber o que aconteceu.
-Eu mandei Lanir te mandar pro doutor Henry por um motivo: você se recuperar. Você não se recuperou, influenciou aquelas pobres mentes desprivilegiadas a lutar por você... você está usando eles porque não têm compaixão no seu coração. Manda moradores de rua lutarem por você, arriscarem a vida por você. - Ele parou de falar por um momento. - Seu egoísta...
Apolo ficou confuso.
-O que eu fiz? Você quer saber o que eu fiz? Eu vou te falar o que eu fiz: eu ajudei gente dessa cidade quando ninguém ajudou. Eu melhorei a vida dessas pessoas quando ninguém moveu um maldito dedo pra isso. - Ele chegou mais perto do pai. - Eu não sei o que é pior... a condição dessas pessoas ou você acreditar no Lanir.
Isso chocou o pai de Apolo.
-Lanir te influência como um patinho... ele quer só o seu dinheiro, ele não se importa com seus sentimentos, pai. Eu estava com o senhor quando a mamãe se foi enqu...
-Não fale dela assim! - O pai de Apolo deu um grito. - Você não é mais filho dela. EU não acredito em você!
-Mas pa...
-Não me chame assim! Saia! - Ele fez um gesto para Apolo sair.
Apolo não falou nada, só encarou o pai.
Um silêncio ensurdecedor invadiu o clima.
-Você ainda é meu pai e eu ainda sou seu filho. Eu te perdoo pelo erro que está cometendo, meu pai. - Apolo o cumprimentou com a cabeça e deu meia-volta e saiu.