Sabe uma coisa que eu gosto muito de ver? Estrelas. As mesmas que vemos no céu quando deitamos na grama do lado de nossos parceiros de mãos dadas. Eu não tenho um parceiro, mas eu não me importo com isso no momento - simplesmente não preciso de ninguém segurando minha mão pra aprecia-las, eu já faço isso muito bem sozinha -. É explicavelmente inexplicável meu gosto por elas, por seu brilho, sua coloração, seu fundo escuro, sua face, seus traços, seus ''tudo''. Eu nunca achei ninguém que goste tanto delas quanto eu gosto, mas quem sabe eu venha a encontrar em algum dia. Eu simplesmente gosto de abrir a janela do meu quarto de noite e ficar lá, debruçada na janela, sentindo a brisa fria do ar sobre minha pele e os cabelos voando e se desarrumando - Não sou a pessoa mais cuidadosa com meu cabelo, então ele fica do mesmo jeito. Enfim... - enquanto escuto alguma música do tipo Country com meus fones de ouvido e meu belíssimo e trincado celular, até que minha mãe chega no meu quarto e delicadamente, com todo o amor e cuidado do mundo, me diz: ''Já está na hora de dormir, querida.''
Bem, depois disso eu vou pra cama - Ainda com a sensação da brisa fria - e fecho os olhos pra tentar dormir. É bem importante você perceber o destaque à palavra tentar, porque eu não consigo.
Quando eu fecho os olhos aparece todo o tipo de perturbação na minha mente, todo o tipo de ofensa aos meus amigos, minha família ou a algum desconhecido - E até ao Nicolas. Não que eu me importe tanto com isso em relação a ele mas você me entende (ou não). -. Eu na maioria das vezes tento ignorar eles, mas eu não consigo, porque depois que eu ignoro um destes pensamentos, sinto um grande mal-estar, remorso e ansiedade, fazendo com que eu não consiga dormir ou até mesmo continuar de olhos fechados. Quando eles vem sugestivos na minha mente (sem ainda ofender tal pessoa), eu tento conter eles me arranhando ou me machucando, mas meio que as vezes só piora a situação e eles vem de qualquer maneira.
Depois de perceber que não vou conseguir dormir, acendo a luz do meu quarto e pego algum livro meu pra ler. Até aí tudo bem, mas... meio que eu tenho uma mania. Eu não consigo passar uma página do livro sem reler praticamente a página inteira uma, duas ou três vezes, e se passo sem reler me sinto desconfortável e começo a achar que perdi alguma informação importante da trama da história. Como se isso já não bastasse, eu tenho que parar nos pontos finais por um momento e ficar pensando neles, tentando desenhar eles - Da mesma maneira que eles estão retratados no livro - na minha mente. Com isso, eu acabo também não conseguindo ler muito bem.
Depois de algum tempo acabo dormindo por cansaço e exaustão de madrugada, num horário bem perto do qual eu tenho que levantar pra ir pra escola.
Então eu estou num belíssimo sono profundo, sem a belíssima Lucine sugerir algo, até que...
-Filha, já é hora. - E sinto alguém me empurrando de leve.
-Cinco minutos? - Tento rebater.
-Não. - E dá fim a conversa.
Acordo, - Sem os cinco minutos extras. - levanto da minha cama com o cobertor de estrelas amarelas de pijama, troco de roupa e coloco o uniforme da escola, desço as escadas da minha casa e vou até a cozinha pra tomar um capuccino. Depois disso volto no meu quarto, - Que tem um banheiro exclusivo para Elizabeth Bittencourt - abro a portinha do banheiro e acendo as luzes dele. Vejo então meu reflexo todo descabelado parecendo que virou a noite - O que não seria alguma mentira de certa forma - e escovo os dentes ao mesmo tempo que arrumo meus cabelos castanhos.
-Liz! Está na hora! - Ouço um grito vindo do primeiro andar.
-Cinco minutos? - Pergunto e grito de volta pra talvez ter mais tempo para arrumar mais o cabelo.
-Não! Desça logo! - E dá fim a conversa.
Arrumo os cabelos e tiro a escova da boca e a lavo, batendo ela 4 vezes - Sem nenhuma distração - na pia. Se ouço algum barulho que não seja da batida da escova enquanto a bato 4 vezes na pia, tenho que refazer a contagem. Eu simplesmente sinto que tenho que fazer isso, senão alguma coisa de terrível vai acontecer comigo. Por sorte, hoje consegui bater ela 4 vezes sem distrações.
-Liz! - Mais um grito, desta vez mais alto, vindo do primeiro andar.
-Já vou! - Pego a mochila e desço.
Minha mãe me leva pra escola, que quando chego o portão ainda fica fechado, me da um beijo na bochecha e me deixa lá, indo pro seu trabalho de juíza.
Bem, essa é minha rotina matutina. É bem estranha mas é minha. Num dia desses repeti essa rotina mas algumas coisas - É, com destaque em coisas - aconteceram depois.
