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Ventriloquismo (Parte 7 - Poeira)


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4 respostas a este tópico

#1 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 18 dezembro 2017 - 22:25

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Quando era meio-dia as folhas das árvores começavam a tomar uma cor mais prateada, passando de um certo tom de verde vivo para uma junção de amarelo esverdeado dourado. Elas tinham a aparência de ouro e o peso de uma pena quando se soltavam de seus galhos frágeis e finos para costurarem e se adicionarem ao tapete de folhas. 

Alicia e Nia desfrutaram o lago ficar totalmente branco pelos raios do sol que ficavam colorindo tudo de amarelo, até os cervos, veados e qualquer animal que passava por lá nesta hora do dia a procura de algum alimento. As águas claras se tornavam ainda mais claras e o azul da água virava um azul claro, tão claro que parecia branco. Era lindo. 

Nia marchava com Alicia em suas costa para o casebre de madeira de sua avó, onde iria encontrar a pequena família para o típico almoço simples da família.

-Olha, eu acho melhor eu ir pra minha casa. - Alicia sugeriu para Nia - Meus pais devem estar loucos.

-Relaxa, é só um almoço. Se quiser pode ligar para eles. - E ela tirou do bolso um celular.

Alicia queria dizer algo a respeito de seu celular estar no bolso de Nia, mas preferiu apenas pega-lo e ligar para seus pais. 

Ligou para o telefone da mãe Alyssa e se surpreendeu por ter sinal naquela floresta.

-Mãe? - A mãe havia atendido - É, sim, sou eu. Então, eu vou pra casa depois de acabar o almoço da família da minha amiga. Que amiga? Ah, é, é a Nathalia. 

-Nia. - Nia esbravejou baixinho para Alicia.

-Cala a boca. - Alicia sussurrou para ela. - Ah, não, não, não, não foi pra você não, foi para a Nath... Nia, Nathalia. É, Nathalia Nia, é como eu chamo ela. Enfim, daqui a alguns minutos estou em casa. Também te amo, beijos. - Desligou o celular e se virou para Nia - Será que da pra calar a boca enquanto eu estou no telefone?

-Será que da pra calar a boca ao em vez de me chamar de Nathalia?

-Será que da pra você calar a boca e apressar essas pernas magras pra almoçarmos antes que minha mãe me mate? Ela falou que tudo estava bem, mas eu conheço minha mãe. Ela está preocupada. 

-Também quem não ficaria, né? 

Alicia percebeu o tom diferente de Nia. Parecia que ela tinha ficado mais fria e um pouco mais alterada depois de ouvir ''Ela está preocupada''. Talvez fosse isso, talvez outra coisa. Talvez Nia se sentisse solitária naquela floresta já que aparentemente não tinha nenhum amigo que conversou com Alicia durante este grande tempo em que trocaram palavras. Talvez ela só quisesse segurar a mão de alguém e não solta-la. Talvez fosse isso que Alicia queria também.

Enquanto Nia caminhava pisando e quebrando os galhos que ficavam no chão e chutando latinhas de cerveja que encontravam pelo caminho seguindo a estrada de terra tão desgastada que parecia que soldados haviam marchado ali para uma guerra as duas não trocaram mais nenhuma palavra, apenas se contentaram com a doce e melódica canção dos pássaros que ecoavam sobre seus ouvidos. Era um som gostoso e relaxante, tudo isto somado com o vento que movia os galhos das árvores e remexia os cabelos de Nia, que iam para trás e se chocavam contra o rosto de Alicia num fino baque. 

Ao avistar o casebre com a faixada de uma casa abandonada e mal cuidada à frente de um jardim rico e cultivado por profissionais na área que plantaram todos os tipos de flores que podiam naquele solo, Alicia se perguntou se algum dia veria coisa mais linda do que as flores exóticas daquele jardim. Existiam flores que possuíam mais de uma cor e outras que se fundiam uma na outra, outras até que exalavam um odor à vários metros de distância de onde estavam plantadas. Era como se ela estivesse vendo um arco-iris que tinha odor e que você podia tocar, porém, sem um balde de ouro no final dele. Na verdade, no final dele existia um pequeno casebre que abrigava pessoas que eram mais valiosas que ouro, e mais raras de se encontrarem também. Afinal, o que você mede como algo valioso é aquilo que é difícil de ser encontrado, e não é difícil encontrar pessoas de bem e honestas dispostas a abrigar uma jovem desconhecida encontrada num rio numa noite fria de inverno? O ouro é importante, mas não se vive de ouro. Alicia não seria salva por uma barra de ouro quando desmaiara. 

Quando subiram as pequenas escadas do casebre, Nia bateu na porta três vezes e a avó as abriu a porta.

Entrando, podia-se ver de primeira um sofá amarelado e esverdeado estampado de desenhos de frutas forrado por um pano amarelo e em sua frente um tapete bem velho e desgastado bordado de azul nas pontas com a escrita no centro ''Bem vindo!''.

Nia colocou cuidadosamente Alicia no sofá e foi pegar algo na cozinha, que ficava alguns metros depois da sala de entrada.

Com o odor de flores espalhado por toda a casa, principalmente vindo da avó de Nia, não foi difícil esperar Nia retornar.

-Você já está melhor, querida? - Perguntou a avó de Nia simpaticamente, as mãozinhas cruzadas e os dedos entrelaçados.

-Ah, sim, já estou. Obrigada. - Alicia sorriu - Linda casa a senhora tem.

A velhinha soltou um riso baixinho e com pequenos passos chegou mais perto de Alicia.

-Obrigada querida, mas essa casa não pertence a mim. Pertence ao meu marido, Walter. - E sorriu.

A voz da avó de Nia era muito doce e qualquer palavra que saía de sua boca se tornava carinhosamente afagante e envolvedora. Ela tinha um tom sutil e acolhedor.

-E onde o senhor Walter está? - Alicia perguntou, curiosa para conhecer mais um membro da família.

Novamente a velhinha sorriu e apontou para cima com o dedo indicador repetidamente.

-Lá no céu querida, lá no céu...

Aquelas palavras partiram o coração frágil de Alicia e derrubou sua expressão de felicidade mais rápido que uma tsunami avança sobre uma baía. Ela se arrependeu de ter perguntado aquilo e ficou com um aperto no peito, quase pediu desculpas à senhora pela pergunta e saiu de perto dela, porém, ao em vez disso, fechou as suas expressões faciais e disse:

-Sinto muito. - Com um tom como se alguém de sua família tivesse morrido de uma morte terrível.

-Por que você sente, querida? - A avó de Nia com passos curtos chegou até ela e se sentou de seu lado no sofá.

-Pela morte do seu marido. - Alicia falou com voz baixa - Claramente eu vejo que são boas pessoas, ele não merecia morrer...

-Todo mundo vai morrer um dia, querida. Eu vou morrer, espero. - Ela soltou um risinho - A morte de Walt só foi prolongada.

Alicia tentou decifrar se aquele sorriso e risos dela estavam, na verdade, carregados de tristeza, mas ela não conseguiu enxergar nada além de uma felicidade simples e sincera. Por que se alegrar com a morte de alguém? Principalmente como a de alguém tão próximo, como um marido? 

-Mas por que a senhora está feliz? Quer dizer, eu não quis... 

-Fique calma querida, suas palavras são poeira. - Ela envolveu os braços delicadamente nos ombros de Alicia - Posso te contar um segredo? 

Alicia fez que sim com a cabeça.

-O Walt... ele está vivo. - E ela sorriu mais uma vez.

A mente de Alicia estava quase parando de funcionar quando ouviu as tais palavras ''ele está vivo''. Não fazia sentido. Nada fazia sentido. Ela falou que Walter estava ''lá no céu'' e em seguida ela fala que ele está vivo? Alicia chegou até a pensar que, na verdade, a avó de Nia era uma maluca com problemas mentais, mas não chegou a dizer ou concluir tal coisa. Como alguém pode estar morto e vivo ao mesmo tempo?

-Me perdoe mas... eu não entendi. - Alicia disse.

-Meu querido Walt está vivo lá no céu, minha querida. E você sabe porque eu não estou triste pela morte dele? Porque ele não morreu. Aliás, ele deve estar muito melhor que eu agora... agora ele deve estar dançando com aquele passo de dança vergonhoso dele junto ao são Filipe Neri... - E ela soltou outro risinho.

-Me desculpe novamente, mas eu não estou compreendendo o que a senhora está falando. - Era difícil para Alicia entender uma coisa nova para ela.

-A morte não existe, minha filha. Só há vida. A morte é poeira. - Alicia ainda não entendia, mas mesmo assim a avó de Nia queria agradar a garota de alguma forma - Aliás, quer ver uma foto do meu pequeno Walt? 

Alicia fez que sim com a cabeça enquanto tentava digerir aquelas palavras que acabara de escutar. Talvez, ela pensou, a avó de Nia fosse uma mulher muito mais religiosa do que parecia ser.

-John! Querido! - Ela berrou - Me traz a foto do Walt, por favor? Aquela que ele está de terno! 

Segundos depois de ela dizer isto John apareceu saindo da cozinha com uma foto em mãos. Ele cumprimentou Alicia com um simples olhar, entregou a foto a avó e depois voltou para onde estava.

-Ah, Walt... - E ela passou a foto para Alicia.

Walter era um homem baixinho que estava de terno - nitidamente um pouco grande para ele - e usava sapatos de cores diferentes, assim como suas meias. Embora a foto fosse preto e branca, podia-se ver que um era mais escuro e outro era mais claro. Walt também tinha um cabelo grisalho e uma barba enorme que realçava os olhos que pareciam ser castanhos ou alguma cor escura. Também podia-se ver seu alegre sorriso e suas bochechas apertadíssimas no seu rosto em meio a um lago, que parecia ser o lago Ravi. 

Alicia de alguma forma achou que Walt se parecia muito com o mendigo que vira mais cedo.

-Ele é parecido com aquele mendigo da floresta... eu e Nia vimos ele hoje.

-Ah sim... o Matthew? 

-Acho que sim... como a senhora sabe o nome dele?

-Ele me disse.

Alicia ficou sem respirar por um momento e seu coração ficou sem rumo. Como assim ele falou para ela? Ela se lembra nitidamente de Nia falar que o mendigo era mudo ou algo assim. Mudo, não falava. Talvez ele tenha se tornado mudo depois que disse o nome para a avó de Nia ou algo assim, mas Alicia tinha um certo receio de saber mais sobre isso. Talvez isto tudo fosse loucura. Talvez a avó de Nia fosse louca.

-Almoço pronto! - John gritou da cozinha.

-Ah, que maravilha! - A avó de Nia se levantou com toda a rapidez que podia - Vamos querida, você deve estar morrendo de fome. Vou pedir ao John para que traga a mesa para cá e vamos almoçar aqui mesmo. Você vai amar a comida do John, prometo! - E rumou em direção à cozinha com um leve sorriso.

Alicia ainda estava digerindo aquilo tudo que ouvira da velhinha, que parecia estar com algum problema psicológico ou mental. Chegou até a ter pena dela, mas não deixou de se deixar levar pelas palavras sinceras que a avó de Nia disse:

A morte é poeira.


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#2 SrN1nj4

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Publicado 19 dezembro 2017 - 9:24

Mais um capítulo incrível e interessante, gostei muito de como nesse capítulo, Alicia conheceu a profundo a avó de Nia, aparentemente ela é bem simpática e carinhosa com as pessoas.

 

Quero saber mais sobre esse senhor, o Matthew, muito curioso de Nia falar que ele era mudo para Alicia, mas ele falou seu nome para a Avó de Nia. Muito curioso mesmo hehe, será que ele é o esposo da avó de Nia ou ele morreu mesmo? No futuro saberemos... Ou não...

 

Gostei muito Ramsay, cada capítulo, uma maravilhosidade...


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"Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário." - George Orwell.

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#3 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 19 dezembro 2017 - 13:15

Mais um capítulo incrível e interessante, gostei muito de como nesse capítulo, Alicia conheceu a profundo a avó de Nia, aparentemente ela é bem simpática e carinhosa com as pessoas.

 

Quero saber mais sobre esse senhor, o Matthew, muito curioso de Nia falar que ele era mudo para Alicia, mas ele falou seu nome para a Avó de Nia. Muito curioso mesmo hehe, será que ele é o esposo da avó de Nia ou ele morreu mesmo? No futuro saberemos... Ou não...

 

Gostei muito Ramsay, cada capítulo, uma maravilhosidade...

 

Obrigado haha :D. Esse senhor vai fazer muita diferença ainda, mesmo que não apareça muito! Uma curiosidade é que este é um dos personagens mais trabalhados da história aparecendo em praticamente apenas 3 capítulos.

Novamente agradeço o apoio que vem dando à minha história, fico muito feliz em saber que está gostando :)

 

 

Abraços,

Ramsay :D


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#4 ursinhagamer

ursinhagamer

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Publicado 27 dezembro 2017 - 0:18

Esse velho já causando mesmo sendo citado em dois capítulos.

Engraçado que os velhos sempre tem uma parte meio mística.

 

 

Por algum motivo, essa parte final: A morte é poeira, me lembrou de uma das minhas musicas favoritas

 

 

"Agora, não fique esperando

Nada dura para sempre, apenas a terra e o céu

O tempo foge

E todo o seu dinheiro não comprará outro minuto

Poeira ao vento

Tudo o que somos é poeira no vento"


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#5 LordSnow -Ramsay

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Publicado 07 janeiro 2018 - 21:36

Esse velho já causando mesmo sendo citado em dois capítulos.

Engraçado que os velhos sempre tem uma parte meio mística.

 

 

Por algum motivo, essa parte final: A morte é poeira, me lembrou de uma das minhas musicas favoritas

 

 

"Agora, não fique esperando

Nada dura para sempre, apenas a terra e o céu

O tempo foge

E todo o seu dinheiro não comprará outro minuto

Poeira ao vento

Tudo o que somos é poeira no vento"

 

Todo velho já chega causando, dona Ursa. Aprenda isso

 

 

 

Abraços,

Ramsay, o velho causador 


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