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Ventriloquismo (Parte 11 - Borboleta)


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2 respostas a este tópico

#1 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 24 dezembro 2017 - 21:49

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-Vamos raio de sol... você não confia no seu pai? 

-E nem na sua mãe? 

Alicia pensou muito em relação à isso. Estava tomando um grande passo para o que ela pensou de ''se tornar uma mulher em desenvolvimento''. Era importante para ela que se parecesse mais com suas colegas de sala e jovens que ela considerada ''normais'', já que ela tinha uma concepção e ideias muito duvidosas e tristes de si mesma.

Não era que ela não gostava do seu corpo ou não gostava dela mesma, era que ela simplesmente não achava nada que gostasse em si, e a cada dia que se passava era mais difícil conviver naquela vida sofrida de Alicia.

Ela estava totalmente maquiada e se preparou praticamente por 1 hora no banheiro e 2 horas escolhendo suas roupas, sapatos, se enchendo de luxos e preparando seus cabelos negros como a noite, sendo que nas 24 horas do dia anterior para o horário de sua festa, ela gastou todo o tempo em uma de suas crises de ansiedade que a faziam transpirar como se estivesse numa sauna.

Alicia estava vestida do seu jeito: uma saia curta e lisa preta e uma camiseta estampada de luas e estrelas brancas em meio ao céu escuro, juntamente com uma meia-calça que encobria toda sua perna e seus saltos pontiagudos negros. Depois da roupa, passou a se preocupar com o cabelo, onde fez questão de ondular totalmente as pontas dos lisos fios capilares para a ocasião especial: a festa de 14 anos.

Francamente, ela achava uma besteira comemorar festas ou coisas assim, mas seus pais insistiram tanto com ela que ela acabou acatando a decisão. Eles estavam preocupados por Alicia se isolar demais das pessoas e de tudo que era considerado ''socializar'' pela sociedade que usavam de tecnologias para se comunicar.

Ela tomou o cuidado de escolher suas próprias músicas, entre elas a sua preferida que seria tocada no final da festa. Seus pais contrataram até um dj para administrar o repertório musical da festa.

Estava tudo pronto.

Seria tudo um sucesso.

Alicia havia convidado todas as garotas e garotos de sua sala, até os mais irritantes e, digamos, ''babacas'' (como Harry ou Nia falariam). Ela tinha pelo menos a esperança de que vazia a festa não ficaria, e isto a fazia feliz de alguma forma bem ampla. 

Quando o relógio bateu 17:00 - o horário da festa - o coração de Alicia funcionava como os ponteiros do relógio: não parava de se movimentar para todos os lados e a cada hora ainda continuava batendo, mesmo que ela não quisesse.

É a hora, é a hora. Eles vão chegar, é, é, vão chegar Ela pensava enquanto estampava um sorriso de boas-vindas para a porta que, na verdade, era um sorriso nervoso. Passados 5 minutos e, vendo que ninguém tinha chegado ainda, ela resolveu acatar o conselho de seu pai ''Ninguém chega cedo numa festa de aniversário'', ele disse. Isto a confortou por alguns minutos

A questão é que entre 17:00 e 20:00, Alicia permaneceu sentada numa cadeira de frente para a porta de sua casa totalmente decorada para sua festa, mas ninguém chegou. Alicia, às 18:00, mudou seu sorriso receptivo para lábios trêmulos clamando para que alguém chegasse, e às 19:00 seu corpo estava tão suado de nervosismo que ela chegava a tremer quando o suor escorria em suas costas.

-Ei, raio de sol - Às 20:00 seu pai, Desmond, se aproximou dela na cadeira e tocou seu ombro - Bem... o que acha de pegar um pedaço de bolo junto com o papai e com a mamãe? 

-Está delicioso! - A mãe gritou do outro lado da sala.

Alicia não respondeu. Ainda estava encarando a porta branca.

-Raio de sol. - Desmond falou com triteza na voz - Não tem problema, isso é normal. 

Alyssa saiu do fundo da sala e foi ter com os dois, abraçando Alicia.

-Meu amor, vem sentar ao nosso lado pra comermos um delicioso bolo. - E forçou um sorriso.

-Estou bem. Obrigado. - Alicia falou com frieza e se levantou da cadeira sem jeito e indo para os lados - Vou pro meu quarto. 

-Raio de s... - Desmond ia falar algo, mas Alyssa o impediu. Achou que a única coisa que a filha precisava agora era de espaço, depois tentariam conversar com ela.

Talvez não tivesse sido uma decisão bem pensada.

Alicia, aos passos frios de marchas, subiu as escadas segurando o corrimão velho de madeira e, entrando no corredor estreito, abriu a primeira porta à direita, a porta de seu quarto.

Quando entrou nele, a primeira coisa que fez foi deitar na cama, mas sem a intenção de dormir.

Ela não sentia tristeza, ela não sentia nada. Sentia um vazio que preenchia o corpo todo dela e se apossava dela como uma bactéria. Ela já não tinha memórias felizes, porque ninguém a lembrou delas; já não tinha espaço para alguma lembrança emocionante, porque Desmond não chegou a lembra-la disso. Era só... vazio. Como se ela fosse levar uma bala no ombro e ao mesmo tempo não sentiria nada. Ela não era mais dona de seus pensamentos. 

O resultado do vazio foi: no fim da noite, Alicia foi segurada às forças pelos pais para não concluir seus três cortes em sua pele fraca e pálida.

Enquanto ela tentava isto, um homem velho de barba grisalha e longa estava na sala, esperando Alicia descer do quarto para comemorar seu aniversário e comer o bolo.

A questão é que não tinha passado ninguém pela porta desde às 17:00 e ninguém estava na casa de Alicia senão seus pais e ela mesma.

Na concepção de Alicia estava tudo escuro.

 

 

Estava tudo brilhante e claro como olhar para as nuvens num dia ensolarado quando Alicia abriu seus olhos enquanto tocava num rádio uma música que pedia a paz mundial ou algo assim. Ela gostou do tipo de música, mas estava alto de mais para uma pessoa que acabou de levar um tiro aturar, então ela olhou na direção do rádio e viu seus pais sentados em cadeiras conversando em murmúrios.

-Pai? Mãe? - Alicia chamou, com voz sonolenta.

-Alicia. - Alyssa chegou mais perto dela enquanto Desmond sorria na cadeira ao ver a filha acordada mais uma vez. - Querida...

Alicia sorriu com a cabeça ainda no travesseiro virada para a esquerda ao ser ''recebida'' com um beijo no rosto por parte de sua mãe.

-Sinto muito por não termos conversado ontem... 

-Esqueça isso, querida, é bobagem. Estamos aqui agora - Alyssa sorriu.

Desmond aproximou a cadeira de Alicia e segurou suas mãozinhas pequenas comparadas às suas e as acariciou com a outra mão.

-Eram ordens do médico... não podemos desrespeita-las, podemos, raio de sol? 

Alicia, como forma de resposta, sorriu.

Ao contrário do que sentira ontem quando acordou, naquele momento ela estava bem e não sentia nenhuma dor, nem mesmo no ombro em que levara o tiro. Ela estava bem e feliz por ver seus pais felizes.

Não conseguia imaginar a dor que Desmond e Alyssa passaram quando ficaram sabendo que a única filha fora atingida com uma bala no ombro que, por alguns metros, não alcançou algum membro ou órgão vital para sua sobrevivência. Não imaginava o quanto sua família devia ter rezado por ela, já que eram muito crentes e adeptos à fé. 

Ela realmente se lembrava de tudo o que tinha acontecido ontem tão claramente que nem conseguia explicar  o porquê, já que sua noite de sono não foi a das melhores de sua vida. Estava dormindo num ambiente novo - e, em sua concepção, horrível - e acordou várias vezes durante o sono; mas mesmo assim se sentia acordada.

-Estou com sede. - Alicia comentou - Pode me passar aquele copo? - Ela apontou para o copo que estava numa bancada atrás de seus pais.

Desmond se levantou, pegou o copo, o encheu de água e se aproximou de Alicia para dar-lhe de beber em sua boca, como se fosse uma criança.

-Não precisa pai. - Alicia riu - Eu tenho um braço funcionando ainda. - E ela acenou para ele com o braço esquerdo.

-Eu sei, eu só... só por precaução, sabe. - Desmond passou o copo à Alicia.

Quando bebeu a água sentiu sua garganta agradecê-la de tal forma que parecia que era o primeiro líquido que tinha tomado na vida, fazendo-a beber mais e mais água a cada instante como se fosse um vício, uma coisa que a obrigava a beber mais e mais. Poderia ser hospitalizada como viciada em água depois deste fato.

Alicia pensava no quanto seus pais sabiam a respeito de seu incidente e pensava se deveria contar-lhes toda a verdade. Também pensava em Harry.

Harry era quem ocupava a maior parte de seus pensamentos naquela sala de hospital. Pensava se ele estava bem ou, mesmo que o médico tivesse assegurado, se seus ferimentos estavam num nível acima do que levar um tiro no ombro direito. Ainda teve coragem de pensar um pouco mais naquele homem, Tom. Qualquer hipótese ou teoria que surgia na sua cabeça a assustava; ela tinha medo até de saber a resposta.

-Imagino que vocês queiram saber o que aconteceu comigo. - Alicia supôs. 

-Na verdade, não. - Desmond falou - Isso é história pra quando você estiver de volta em casa assistindo televisão comigo e sua mãe. - Ele segurou a mão de Alyssa - Por enquanto só estamos aqui até você se curar.

Alicia sorriu para eles sinceramente. Os pais dela tinham esse jeito de fazer ela sorrir quando ninguém mais podia, até mesmo Nia. Eles eram carinhosos, amorosos e se preocupavam com a filha como se ela fosse o centro de suas vidas, como se caso ela morresse, eles morreriam junto. Parece poético, mas também não fosse.

-Para sermos sinceros, queremos saber de outra coisa... daquela sua ''amiga''. - Alyssa falou em tom alegre - Nunca a vimos. De onde se conhecem? O médico nos disse que ela estava desesperada e, por acaso, insinuou que vocês eram namoradas. Estranho, não? - Olhou para Desmond. 

-Ah sim... ela se chama Ni... Nathalia. - Alicia se lembrou do beijo - Conheci ela na sexta, depois que eu saí do show. Ela é... - Ela tentou achar uma palavra muito melhor, mas não conseguiu - incrível. 

Seus pais repararam em como ela falava de Nia e ficaram admirados e felizes por seu pequeno raio de sol ter encontrado alguma amizade que satisfaziam ambos. Não era qualquer pessoa que se conhecia do dia para a noite e ia te ver no hospital como um pirata à procura de tesouros. 

Era bom ver Alicia feliz. 

-Bem, quando quiser chamar a Ni Nathalia para nossa casa, pode chama-la a vontade. - Disse Alyssa - Quero muito conhece-la. 

Alicia confirmou com a cabeça e seu coração pulou de alegria ao ouvir aquelas palavras. Provavelmente deveria estar preocupada com algo grave ou até com seu ombro, mas não. Ela simplesmente se sentia ótima como nunca sentiu e se sentia feliz ao lado de seus pais.

Quando sua garganta pediu mais uma vez por água, ela acatou o ''vício'' e levou o copo á boca, derramando o líquido no interno de sua boca e a fazendo virar um mar largo de pura contemplação. Importunamente, ela estremeceu com a mão esquerda e deixou o copo cair no seu lado direito da cama, fazendo seu coração dar um pulo de susto por ter a impressão de que deixara o copo cair no chão. Ela havia derramado água em si mesma, mas não viu problemas nisso. Era melhor do que sangue, com certeza.

-Tudo bem, raio de sol, eu pego outro copo. - Desmond se estendeu para pegar o copo.

Por instinto, Alicia moveu seu braço e pegou o copo, apertando-o em sua mão entre seus dedos sem nenhuma dificuldade e o estendendo à Desmond.

Desmond paralisou e Alyssa ficou boquiaberta.

-O que foi? - Alicia notou a expressão dos dois.

-O... o seu braço. - Desmond tocou no braço direito de Alicia sem levar um dedo ao copo. - Ele... 

Alyssa não falou nada, apenas ficou em choque.

Só depois de alguns segundos que Alicia percebeu que ela havia movimentado o seu braço direito sem a maior dificuldade, agiu até de forma natural como se nada tivesse acontecido, sem que sentisse uma dorzinha que a fizesse estremecer ou gemer. Sua reação foi a mesma de Alyssa. 

Alicia começou a movimentar seu braço direito e a elevar e descer seu ombro onde a bala tinha entrado enquanto ficava olhando ora para seus pais e ora para o braço, sem acreditar no que estava vendo. Seus olhos verdes ficaram mais verdes ainda e as pontas de seus lábios se arquearam, formando um sorriso trêmulo e ao mesmo tempo bonito.

Ela levou o braço até o rosto de barba por fazer do pai enquanto tremia sem saber o que dizer ou fazer. Acariciando seu rosto em movimento circular com o polegar, como Nia fizera com ela, ela sentiu os pelos da barba cortarem finamente seu dedo, mas não ligava para isso. Não naquele momento.

-É um milagre. - Alyssa finalmente falou algumas palavras.

O coração de todos palpitava e batia de um lado para o outro enquanto Alyssa fazia o sinal da cruz e agradecia e Desmond e Alicia se abraçavam. 

Os olhos de Desmond começaram a lacrimejar ao passar seus braços nos ombros da filha e os de Alyssa formavam rios de gotas de felicidade, não de lágrimas quaisquer. 

Alicia ainda chegou mais para o lado e colocou seus dois pés no chão da sala hospitalar, conseguindo se manter de pé perfeitamente como outra pessoa normal.

Isto fez Desmond baixar sua cabeça no ombro direito da filha e acariciar seus cabelos negros com um dedo de cada vez como sempre fazia, desde que Alicia era uma garotinha, enquanto ficava repetindo ''Meu raio de sol, meu raio de sol'' junto com algumas lágrimas e risadas acompanhadas de soluço e de sorriso.

 

 

 


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#2 SrN1nj4

SrN1nj4

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Publicado 25 dezembro 2017 - 9:15

Primeiramente Feliz Natal a você Ramsay.

 

Que capítulo emocionante, cada vez ficando mais bom... Eu vejo que a infância de Alicia foi triste por se isolar da sociedade. Ao menos seus colegas de escola poderiam ir na festa...

 

Foi um milagre com certeza, do nada ela mexeu o braço como se nada tivesse acontecido, nem mesmo ela percebeu :D .

Os Pais de Alicia se preocupam mesmo com ela.

 

Continua que no final você vai fazer me chorar com essa história bela e magnífica...


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"Num tempo de engano universal, dizer a verdade é um ato revolucionário." - George Orwell.

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#3 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 25 dezembro 2017 - 9:21

Primeiramente Feliz Natal a você Ramsay.

 

Que capítulo emocionante, cada vez ficando mais bom... Eu vejo que a infância de Alicia foi triste por se isolar da sociedade. Ao menos seus colegas de escola poderiam ir na festa...

 

Foi um milagre com certeza, do nada ela mexeu o braço como se nada tivesse acontecido, nem mesmo ela percebeu :D .

Os Pais de Alicia se preocupam mesmo com ela.

 

Continua que no final você vai fazer me chorar com essa história bela e magnífica...

 

Obrigado :D. Infelizmente a Alicia não é só fictícia, existem várias crianças e jovens assim passando por problemas ainda piores...

 

Quando vejo seus comentários:

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Feliz natal,

Ramsay, o papai noel  (gift) 


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