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Dama da Noite [Capítulo 1 - Verbena]


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5 respostas a este tópico

#1 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 14 outubro 2018 - 12:09

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A rua Daisy estava pouco movimentada, como já de costume, quando os relógios das casas antigas e abandonadas bateram às dez horas da noite. Período onde o crime podia sair de casa e só voltar na madrugada ou de manhã, período onde uma guerra civil se instaurava e, no dia seguinte, era acobertada e aparecia somente às escuras de um bar vagabundo de pouca qualidade. As noites na cidade de Orchid Ville eram calmas para os que se abrigavam nas suas casas e jantavam tardiamente, aquecidos pelas lareiras à moda antiga; mas já para os sem-teto e para os que eram o coração das ruas, uma noite nunca era mais fácil ou mais prazerosa que a anterior - pelo contrário, tudo era sempre amargo. Não havia problemas nisso, já eram treinados e eram mais do que preparados para aguentar mais um dia, ou, dependendo de sua situação recorrente de vida, menos um. 

As flores já haviam começado a desabrochar, pois a primavera já ia caminhando à passos largos e, no mesmo período em que a primavera chegava, o governo da pequena cidade gostava de trazer pequenos músicos ou cantores medianos e baratos para os Shows de Primavera. Era uma tradição da cidade há 20 anos e ninguém reclamava disso, pelo contrário, gostavam de sair para os botecos e viver a noite enquanto pediam músicas populares para os cantores, quase sempre constrangidos pelo grande número de pessoas que estavam ao seu redor. Tudo na cidade era muito bem definido, menos a questão de quem conseguia conseguia sair ou não das ruas durante grande parte da sua vida - ou toda.

Este era o caso de Seera Adams, apelidada carinhosamente (ou pejorativamente, dependendo do ponto de vista) de Dama da Noite.

Seera era uma jovem branca e rosada como um papel pintado com tinta púrpura que vagava pelas noites da cidade de Orchid acompanhada de vaga-lumes acima de sua cabeça protegida com um capuz que ganhara de uma proposta humanitária da cidade quando tinha apenas 13 anos. Hoje, completando seu décimo nono aniversário, ainda se recordava do rosto doce e rugoso de quem a havia entregado o moletom preto com o escrito Orchid, representando - ou estampando na cara da cidade - que os governantes haviam realmente feito algo pelos mais pobres.

A garota não era nenhum pouco popular nas ruas e só vagava pela cidade quando era noite, enquanto dormia quando o dia raiava. Preferia assim, era melhor. Seus cabelos negros se mixavam e misturavam-se ao escuro da noite e seus olhos castanhos brilhosos copiavam o brilho das estrelas da constelação de Órion, o caçador. Era tão magra como um palito, tinha apenas o alimento fornecido por campanhas e sua cesta - muito - básica recebida do estado, a qual era seu café da manhã, almoço e jantar. Já não haviam lares que podiam a receber, já que sua maioridade já tinha arrombado a porta de todos os possíveis lares e a enxotado deles. Era difícil, mas era a vida que ela tinha; muitos nem uma conseguiam ter por mais de alguns dias na rua. Ela, pelo contrário, tinha 19 anos de experiência nos asfaltos e passeios. Sempre morara nas ruas, sempre era auxiliada pelos sem-teto que moravam por perto de onde estava. Nunca havia ido para a escola ou visto televisão. Só conseguia viajar para outros lugares quando era dia e seus sonhos a levavam onde quiser.

Parecia uma vida romanceadamente acabada, mas o que haveria de romancear onde não existia nada?

 

 

 

 

 

Quando o retorno do sol anunciou que era dia primeiro de dezembro, a cidade já começava a festejar as próximas festividades e os estudantes já riam só de pensar em não voltar mais ao terror juvenil que chamavam de escola. Tudo era um ciclo como em qualquer outra região do globo terrestre da biblioteca municipal, lugar em que Seera havia adormecido na noite passada e acordado. 

A senhora Melanie havia cedido o espaço às escuras dos governantes para que Seera e mais alguns sem-teto pudessem se refugiar por tempo indeterminado. Era uma senhora de 67 anos que ainda tinha um coração (mesmo que não tão eficiente agora) caridoso.

A auréola da lua cheia já havia contaminado o céu inteiro e seus súditos, as estrelas pintavam-no como se fosse um quadro. Era a hora em que a Dama da Noite gostava de sair para fazer o que bem fazia e o que bem achasse que fosse o ideal na situação. Era comum ela levar a cesta básica e alguns doces que havia ganhado de gentis cidadãos que passavam na biblioteca e forneciam alguma esmola quando tinham algo para doar. Como de costume, Seera tinha dormido razoavelmente mal, com sua cabeça escorada nas estantes de madeira oca, a qual era o único ''travesseiro'' disponível no momento e no lugar. 

De uns tempos para cá ela e mais outra garota, River, menina de belos cabelos ondulados até o peito, estavam saindo às escondidas da biblioteca para observar as estrelas do alto do lugar mais alto da cidade. Era costumeiro as pessoas terem apelidos na cidade, por isso a mais nova ''escudeira'' da Dama da Noite havia ganhado o apelido de Violeta. Apelido um pouco mais carinhoso para uma garota de 14 anos de idade. 

Atravessavam a maior parte da cidade e demoravam cerca de uma ou duas horas para chegarem até o ponto onde queriam: o lugar ao lado do observatório municipal, lugar que disponibilizava telescópios gratuitamente para que os casais apaixonados ou amantes da noite pudessem ver mais de perto o universo em que se encontravam. Era um passa-tempo que Seera e River estavam aproveitando há mais de uma semana.

O lugar era cercado por grandes árvores afastadas do observatório e coberto por pequenas gramíneas, agindo no chão como se fosse um tapete bordado de ouro - ou de girassóis, como era o caso -; havia também um pequeno lago de água cristalina e agitada ao oeste do observatório, onde várias pessoas iam para se banhar durante a noite juntamente com a luz da lua. Podia-se ver a cidade de longe ''piscando'' com as luzes das casas e prédios acendendo e apagando; era uma verdadeira e espetacular visão que podiam ter todas as noites quando bem entendessem. Na mente de Seera, era como se houvesse uma grande festa de pequenos animais abaixo dela ou grandes ondas indo em direção ao abate. Poderiam haver divergências sobre as comparações, mas algo era fato: era lindo.

Quando chegaram ao lugar próximo ao observatório, contemplaram a bela visão por alguns segundos.

-É tão lindo, não é? - River disse o óbvio.

Seera apenas esboçou um sorriso torto, como de costume, e rumou para o ponto.

-Sabe, você podia falar mais. Não é ruim falar pouco, mas você me entende. - River, ficando pra trás, correu atrás dela.

-É, eu sei. Me desculpa. - Foi a frase mais longa que Seera havia dito nesse dia até o momento.

-Não, não. Não precisa pedir desculpas, é que... que... como eu disse, é estranho, sabe? A gente já se conhece a mais de uma semana e... e eu só sei seu nome até agora. Não sei quantos anos você tem, se tem ou já teve algum namorado, onde você nasceu, que música você gosta... 

Seera riu sorrateiramente dentro de si mesma, mas River percebeu.

-O que foi? - Ela perguntou.

-Só é engraçado. Muitas perguntas. Olha, minha vida não é tão interessante como você pensa. 

River se contentou por esse momento e as duas continuaram caminhando adiante para terem a melhor vista possível da cidade. Seera gostava de molhar os pés no lago mesclado com a noite e River adorava olhar Marte e Mercúrio pelo telescópio. Na sua impressão, parecia que alguém havia colado um papel na lente do telescópio e ela estava olhando para esta imagem. Era algo tão estranho de se explicar.

As horas se passavam assim como a vida das estrelas no céu, e algumas iriam cair dentro de seu próprio núcleo e explodirem, formando uma super-nova. Pelo menos era o que alguns desconhecidos haviam explicado para River e Seera na primeira vez em que as avistaram olhando o telescópio. Qualquer informação para duas garotas sem o ensino fundamental era bem-vinda, desde que fosse algo interessante.

Seera ora mexia os pés lentamente na água e ora os batia levemente para jorrar um pouco da água do lago; era algo que ela gostava de fazer enquanto se deitava e olhava para as estrelas e para as folhas das árvores que se mexiam conforme o vento se tornava mais rápido e forte. Realmente, o vento era bem rigoroso nesta parte alta da cidade e não havia como se proteger dele, de uma forma ou de outra ele atingiria alguma parte desprovida de tecido de seu corpo, mas as garotas não ligavam para o frio, até gostavam dele. Era um sentimento de liberdade e de vida, era como se a Terra estivesse olhando para elas naquele momento e dissesse ''Ei, eu sei que vocês existem''. Era um sentimento gostoso e agradável.

Do outro lago do lago podia-se ver alguns casais se beijando e algumas pessoas mexendo no celular. Por inconveniência e para a perturbação da paz, um grupo de jovens se preparavam para pular dentro da água e acabar com a contemplação única de Seera. Ela olhava para este pequeno grupo e alguns deles olhavam para ela. Parecia uma assombração.

-Não vai comer? - Perguntou River, se assentando ao lado de Seera e colocando os pés na água, assim como ela.

-Depois. - Seera respondeu - Será que esses caras realmente vão pular? - Ela perguntou bem-humorado, depois de algum tempo.

-Com certeza vão. - River olhou para eles e sorriu - Ei, Seera.

Seera olhou para ela.

-A gente podia pular também, sabe. Quer dizer... não é como se esse lago estivesse mais sujo do que nós estamos, sabe? - Ela falou, desengonçada e gaguejando.

-Você tá falando sério? - Seera forçou a voz e riu. 

River concordou com a cabeça meio desajeitada e Seera voltou a olhar para o grupo de jovens. Quase todos já estavam com roupa de banho e davam gargalhadas tão altas que poderiam acordar toda a cidade. Empurravam uns aos outros compulsivamente mas ninguém caía, até que dois garotos se juntaram e carregaram uma menina de cabelos curtos até a borda do lago e a jogaram dentro dele. Infelizmente, ela ainda estava com sua roupa social e ficou realmente brava enquanto os outros continuavam a rir.

-É a última vez que eu venho aqui com vocês! - Ela gritou.

River riu, mas não porque achou engraçado o que aconteceu com a garota. Achava divertido ter amigos assim.

-Estou. - River disse - Olha, eles provavelmente tem a sua idade. Por que você não vai lá pedir? 

Seera achou essa ideia absurda; era como pedir ao sol para que ele se apagasse. Recusaria sem pensar duas vezes se dependesse dela, mas ela percebeu o desejo de River de fazer parte de algo e se divertir um pouco. Realmente, as ruas não são tão divertidas e não há nada que jovens sem-teto possam fazer além de ver as estrelas e esperar por um dia melhor. Por isso, concordou de forma desajeitada.

-Olha, eu vou pedir pra eles, mas eu não vou entrar. - Seera disse, decidida.

-Como não? Se você não entrar eu também não entro. - River achou isso um absurdo.

-River, eu não vou entrar. Eles nem me conhecem. O máximo que eu posso fazer é colocar os pés na água e ficar perto de você lá. 

-Nada feito. - River recusou - Eu também sou uma estranha pra eles, esqueceu? Eu não vou nadar sozinha assim. - Ela parou de falar por um momento - Olha Seera, por favor.

-Não. - Seera disse.

River bufou e, entristecida, mexia os pés na água lentamente, cabisbaixa. Era um entretenimento que a garota iria perder pela reclusão de Seera, uma chance de ter alguns amigos e quem sabe ter algo a mais com um dos garotos. Afinal, eram estranhos. Estranhos. Estranhos não lembrariam das duas garotas mais do que um dia, esqueceriam rapidamente. Seria só um pequeno mergulho, nada mais do que isso. Com sorte, poderia fazer alguma amizade. Foi isto que Seera, depois de alguns minutos, pensou para mudar de ideia.

-River. - Seera a chamou - Eu vou com você, mas eu não vou ficar mais que dez minutos, ouviu? - Doeu para falar isto. 

-Sério? - River se alegrou subitamente e abraçou Seera - Eu te amo tanto!

-Interesseira. - Seera se levantou e foi até o grupo de jovens.

 

 


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#2 ursinhagamer

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Publicado 14 outubro 2018 - 13:18

hehe.

 

Coitada da Seera, sabe-se lá oque ela passou nessa vida, saber que é a realidade de muitas pessoas...

 

E esse mistério ao redor da rua heim, sei

 

River sou eu na vida, muito chantagista, eu só n sei fazer o olhar perdido do gato de botas... ainda

 

Será que nossa Seera vai encontrar o amor de sua vida nesse pequeno grupo de jovens bonitos e sarados(como eu imagino), ou ela vai ferrar com a vida dela? Não perca no próximo capitulo 


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#3 LordSnow -Ramsay

LordSnow -Ramsay

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Publicado 14 outubro 2018 - 13:23

hehe.

 

Coitada da Seera, sabe-se lá oque ela passou nessa vida, saber que é a realidade de muitas pessoas...

 

E esse mistério ao redor da rua heim, sei

 

River sou eu na vida, muito chantagista, eu só n sei fazer o olhar perdido do gato de botas... ainda

 

Será que nossa Seera vai encontrar o amor de sua vida nesse pequeno grupo de jovens bonitos e sarados(como eu imagino), ou ela vai ferrar com a vida dela? Não perca no próximo capitulo 

 

Por favor, nem tenta fazer o olhar do gato de botas

 

O que será que vai acontecer?

 

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#4 Averton12

Averton12

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Publicado 15 outubro 2018 - 9:21

Cheguei olhando,olhando....Vou ler só um parágrafo.......a vai 2 então....pq não 3?



Ok prendeu minha atenção

Editado por Averton12, 15 outubro 2018 - 9:22.

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#5 Dado

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Publicado 15 outubro 2018 - 10:48

Ficou ótimo. :)


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Somewhere thinking.


#6 RuiOliveira

RuiOliveira

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Publicado 15 outubro 2018 - 19:41

melhor que muitas obras literárias rs




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