Apolo
O assalto seria o maior que a cidade já vira ou veria em anos. Todos que estavam naquele banco estavam nervosos, até mesmo os criminosos.
-É melhor passar essa bolsa, não vou avisar de novo! - Gritou um homem para uma mulher que segurava sua bolsa em estado de choque.
De outro lado, os bandidos retiravam dinheiro dos caixas eletrônicos, mas estes não eram os focos do assalto.
O foco era mandar uma mensagem. Um aviso.
Os criminosos transmitiam todo o assalto e todos seus movimentos para todas as emissoras abertas da região. Por que fazer isso? Por que deixar que todos soubessem o que se passava lá?
Para eles, parecia que quanto mais tumulto, melhor era.
Entre todos os reféns, haviam duas pessoas em especial: a ''mãe'' de Charlotte e Apolo.
A mãe de Charlotte estava em posição fetal, chorando no canto do banco.
Apolo, porém, estava de cabeça erguida para um dos assaltes.
Sua altura de um metro e trinta e cinco centímetros não o fazia menor que outra pessoa, pensava ele.
-Por que está me olhando, anão? - Disse o bandido olhando para baixo.
-Quer a resposta mais ou menos agradável? - Apolo perguntou com um tom de humor na voz.
-O que? - O bandido ficou um pouco irritado. Não tinha paciência.
-A resposta mais agradável é que estou vendo um homem alto segurando uma arma na minha frente. A menos agradável é que estou vendo um idiota achando que é alguém segurando uma arma sem nenhum jeito pra isso.
O bandido ficou espantado com o homenzinho.
Na mesma hora, ele virou um grande tapa na face de Apolo.
Havia ficado uma grande marca na parte direita de seu rosto.
-Bate como uma mulher. - Apolo, depois do tapa, se virou pra ele e cuspiu no chão.
Um dos companheiros do bandido começou a rir e a zombar do que havia batido em Apolo.
-Por que escolhemos esse cara? O anão é mais durão que ele. - E ele soltou uma grande gargalhada.
O bandido pegou sua arma e projetou seu corpo pra bater na cara de Apolo.
-Não! - Uma voz disse com um tom severo. - Não vamos machucar os reféns, idiota.
Na mesma hora, o criminoso desistiu do que iria fazer ao pequeno homem. Ele se distanciou de Apolo e começou a roubar os reféns detidos.
O homem que ordenou o bandido a parar ficou diante de Apolo. Era alto, usava uma máscara preta e segurava uma metralhadora nas mãos. Como se já não bastasse, era um homem bem forte.
Ele se agachou para ficar na mesma altura de Apolo.
-Qual é seu nome? - Ele perguntou com voz sádica.
-Apolo. - Apolo não mentiu. Não mentia nem para um criminoso.
-Bem, Apolo. Eu preciso de um saco de pancadas, sabe?
Apolo tremeu um pouco.
-Vou mostrar na frente das câmeras pra todo mundo o que acontece quando se mexe com um de nós. Afinal, você humilhou um dos nossos ao vivo na televisão. Todos viram isso. Se não fizermos nada, vão pensar que somos um bando de maricas. Não acha?
Apolo não falou nada. Engoliu em seco.
-Diga alguma coisa, camarada. - Ele deu um tapinha no braço de Apolo.
-Me bata o quanto quiser. No fundo, vocês são todos uns covardes de qualquer forma. - Apolo falou na cara do comandante do assalto.
Neste momento, o comandante abriu um sorriso. Era perceptível, mesmo com a máscara.
-Você! - O comandante apontou para uma mulher negra.
Em outras palavras, esta era a mãe de Charlotte.
A mulher começou a tremer e começou a gritar ''não'' ''não'' ''não, por favor''.
Um bandido pegou a mulher pelo braço e a jogou na frente das câmeras que haviam instalado.
-Não! Esperem! - Apolo interveio. Ele correu na direção da mulher, mas um dos bandidos o impediu de prosseguir.
Apolo empurrou o bandido com a maior força que um homem baixinho conseguiria, e ele caiu no chão.
Correu em direção ao homem que estava com a mãe de Charlotte e pegou a mão da moça, a segurando.
-Esperem! - Ele se virou pro comandante do assalto. - Espera! Eu posso compensar o que eu fiz. Triplicar.
-Me diga, anão. - o comandante começou a falar. - Como uma pessoa tão pequena poderia fazer algo tão grande assim? - Os criminosos riram.
-Meu irmão é rico. - Apolo começou. - Mais rico do que qualquer coisa que vocês possam roubar aqui. Ele pode fazer todos vocês se tornarem milionários. - Ele pareceu afobado.
-E como seu irmão ser rico e nos fazer milionários ajudará o destino desta mulher? - - O comandante já sabia a resposta. Porém, queria jogar um jogo de inteligência com Apolo. - pelo que eu saiba, pra eu ganhar o dinheiro do seu irmão eu só preciso te deixar vivo. Esta mulher não é importante.
-Olha - Num jogo de inteligência, ninguém daquela sala conseguia ganhar dele. - eu honestamente prefiro que vocês atirem na minha cabeça com uma arma dessas do que dar o patrimônio do meu irmão pra me salvar. Porém, se isso se aplicar a uma outra pessoa... - ele fez uma pausa. - então, podemos negociar.
-Certo, certo, certo. Entendido, capitão. - O comandante fez sinal pra que tirassem a mulher de frente das câmeras. - Capitão Apolo, tome este telefone - ele jogou o telefone pra Apolo - ligue pro seu irmão, por favor. Seja rápido. Peça para ele trazer tudo que tem em notas. Isto mesmo, notas. - O comandante acabou o diálogo e saiu de perto de Apolo.
Apolo soltou um suspiro de alívio por ter salvo a mulher e outro de preocupação por acabar com o patrimônio do irmão.
Na verdade, não sabia se o irmão lhe daria o dinheiro.
O irmão de Apolo era muito diferente dele.
Era alto, de cabelos louros jogados para trás e de olhos azuis. Trabalhava como ator, e sem dúvidas, era um dos melhores que o mundo já vira ou veria. Ele não se importava com as pessoas tanto como Apolo. Na verdade, não se importava tanto nem com o irmão. Tudo que ele fazia por Apolo era para que o pai não ficasse bravo e desgostoso com ele (o pai ainda conseguia ser mais rico). Lanir era o nome dele.
Lanir, a pedido do pai, levava Apolo para o psicólogo Henry com dois seguranças junto para garantir que o homenzinho não faria nenhum truque para escapar.
A causa pra Apolo ir para o psicólogo não era uma causa normal. Na verdade, era horrenda.
O pai de Apolo e Lanir, se preocupava muito mais com Apolo do que com Lanir, e os dois filhos sabiam disto.
Apolo, um dia, passava pelas ruas com Lanir quando encontrou um homem velho, que pedia dinheiro. Apolo deu muito dinheiro para ele e o homem perguntou o que poderia fazer para agradecer. Apolo, com seu senso humor, falou ''lute pra mim na minha guerra que financiarei'' e deu uma risada. Enquanto isso, Lanir apenas abriu um sorriso falso, para proteger sua fama de bom moço atrás das câmeras. Nisto, quando se encontraram com seu pai, Lanir disse que Apolo estava dando dinheiro para moradores de rua e pobres para que ficassem fiéis a ele, com o fim de fazer uma revolução ou tomar as propriedades dos cidadãos ricos.
O pai deles não acreditou, pediu provas. Lanir então, guiou o pai até o encontro ao morador de rua e perguntou para o homem, na frente de seu pai o que Apolo havia dito pra ele. O homem falou e o coração do pai ficou partido. Então, mandou Lanir colocar Apolo nos serviços de um psicólogo para que a situação fosse profissionalmente resolvida.
Assim foi parte da história de Apolo.
Voltando para o cenário de guerra no banco, Apolo ligou para seu irmão, que atendeu.
-Apolo? É você mesmo aí na televisão? O que está fazendo aí? - Lanir atendeu desesperado.
-Não finja que se importa. Poupe o esforço. - E se fez uma pequena pausa. - Eu só quero que você saiba que eu te perdoo. Te perdoo por me odiar, te perdoo por tentar destruir minha vida. Te perdoo por me mandar pra aquele doutor. Eu sei que foi você... tenho meus contatos.
-Apolo... - Lanir tentou falar mas foi interrompido.
-Eu te perdoo por qualquer coisa horrenda que já tenha feito. Agora, deixa esse seu maldito orgulho de lado e pegue todo o dinheiro que você tiver em notas e mande alguém entregar aqui no banco. Agora.
-Você está ficando louco? - Lanir quase perdeu a cabeça ao ouvir as palavras.
-Quem vai ficar louco é o papai se você não pegar o maldito dinheiro. Seu idiota, você em uns três anos recupera tudo que tem hoje. Só por mês, você já ganha mais do que toda essa cidade junta. Faça um favor a si mesmo e entregue o dinheiro agora... ou...
-Ou o que? - Lanir estava quase se convencendo.
-Ou eu vou morrer aqui, junto com uma mulher inocente por sua causa. O que papai acharia disso?
O telefone desligou. Lanir, especificamente, desligou.
Apolo havia o convencido. Ele conhecia seu irmão. Sabia que isto era um sinal.
-E... - O comandante queria saber o que havia acontecido.
-O dinheiro está vindo. -Apolo disse, confiante.
-Ótimo, anãozinho. Bom trabalho. - O comandante ficou satisfeito e pegou de volta o celular. - Mas sabe...
Apolo ficou congelado com essas duas palavras.
-Não estamos aqui por dinheiro. - Ele olhou todos em sua volta. - Estamos aqui pra mandar uma mensagem.
-Que tipo de mensagem? - Disse Apollo, enquanto todos tremiam.
O comandante olhou para a câmera posicionada.
- Que os Jires estão de volta. - Ele conferiu as horas e pegou um celular. - Dois minutos, pessoal. - Ele disse para os companheiros bandidos.
Dois minutos de puro silêncio se passaram.
-É a hora! - Disse o comandante, puxando do bolso um celular. - Pode explodir. - Ele fez sinal pros bandidos saírem e trancarem a porta do banco.
Todos os criminosos saíram e o último a passar, que foi o comandante, trancou a porta, colocando um objeto bem pesado e irreconhecível na entrada para não deixar ninguém abri-la.
De repente, o interior do banco explodiu.
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