Um jovem casal ria numa floresta, mais especificamente, dentro de um rio.
Ambos com as roupas que foram para lá, todas molhadas.
-Jack, cadê seu boné? - Charlotte não parava de rir.
-Ah, droga... - Jack parou de rir e ficou procurando ele na água.
-Eu até agora não sei como você convenceu sua mãe a deixar você ir aqui comigo...
-Se chama anos de confiança e mais alguns anos sem sair de casa. - Realmente Jack não saía muito. - E você? Como convenceu a sua?
-Se chama salvar sua mãe de um grande assalto. - Ela não sabia se ria ou se retirava o que disse. - Tecnicamente eu não a salvei, mas...
-Salvou sim. - Jack a interrompeu. - Não só ela, como a vida de várias pessoas.
Charlotte sorriu pra Jack.
-Você é uma heroína. Minha heroína.
-As vezes você é meio meloso. - Charlotte fez uma pausa. - É isso que eu gosto em você. - Ela jogou água nele e começou a rir.
Jack retribuiu em dobro a água que acertou seus olhos.
Ficaram assim alguns minutos.
-Como você vai explicar isso pra sua mãe? - Jack estava rindo num ponto que quase parava de respirar. - Tipo, suas roupas...
-Vou falar pra ela que um tal de Jackson Lewis me jogou num rio. Que tal?
-Justo. Falo pra minha que percebi que Charlotte era uma má influência, então desisti dela.
Os dois riram.
-Acho que a gente ficou aqui muito tempo. - Charlotte estava morrendo de frio. - Quer sair?
-Claro. - Jack estava deixando o rio e rumando pras mochilas que eles jogaram perto de uma árvore. - Fica aí, vou pegar a toalha pra você.
-Meu herói! - Charlote fez uma voz exagerada.
Jack sorriu e foi pegar uma toalha na mochila.
-Onde ela tá? - Jack procurava mas não encontrava. - Charlotte! Tem certeza que pegou uma toalha? - Ele gritou pra ela.
-Tenho sim! Quer que eu vá aí e pegue? - Ela devolveu o grito.
-Não precisa, obrigado. - Ele procurava mais. - Achei!
Subitamente, Jack ouviu um barulho de galho quebrando.
Estava em cima dele.
Ele ficou parado e olhou pra cima.
-Jack? - Charlotte percebeu que ele estava pensativo. - Algum problema?
Jack olhou pra cima e não viu nada além de galhos e folhas de árvore.
-Tudo. - Ele deu mais uma olhada pra conferir. - Já vou indo.
Ele foi novamente para o rio e entregou a toalha para Charlotte
Charlotte saiu do rio e se secou (o máximo que podia).
Depois disso ela entregou a toalha para Jack se secar.
-Já vou pegar as nossas coisas. - Charlotte conferiu uma bolsa maior que a de Jack e puxou de lá um pano bem grande, um cobertor e muitos salgadinhos e latas de refrigerante.
Ela colocou o pano perto do rio e jogou o cobertor pro lado.
Sem esquecer, também jogou os salgadinhos e os refrigerantes no pano.
-Charlotte chama Jackson para comer salgadinhos, chamando Jackson... câmbio Jackson. - Ela fez uma voz estranha. - Isso foi um pouco constrangedor.
-Um pouco? - Ele riu.
Charlotte jogou um pacote de salgadinho na cara dele.
-Só eu posso me ridicularizar, ouviu? - Ela riu também.
-Tudo bem senhora, entendi.
Os dois depois disso se deitaram no pano com um deitado olhando para o outro e colocaram o cobertor enquanto comiam os salgadinhos e bebiam os refrigerantes.
-Posso te perguntar uma coisa? - Jack quebrou o silêncio.
-Claro. - Charlotte ficou um pouco preocupada com a pergunta.
-Porque seus irmãos te chamam de ''A Gata''?
-Isso não tem nada com seu grande ciúme, não é? Tipo, sabe... é estran...
-Não não não... é só por curiosidade. - Jack ficou vermelho.
-Olha - Ela falou mais sério agora. - isso é uma coisa que eu não conto pra todo mundo.
-Tudo bem... - Jack pareceu um pouco desapontado.
-Mas você não é todo mundo.
Ele ficou mais feliz.
-Eu não gosto muito de falar sobre isso mas... é que os ''meus irmãos'' não são, tipo, meus irmãos de verdade. - Ela falava tentando manter a voz calma e olhando pra baixo.
-Como assim? - Jack ficou intrigado.
-Eu praticamente sou adotada. Minha mãe me deixou quando eu ainda era um bebê.
-Eu sinto muito...
-Não sinta. - Ela olhou pros olhos dele agora. - Talvez ela não pudesse me criar ou coisa do tipo... talvez ela não quisesse um bebê... - Ela procurava mais motivos.
-Charlotte, não fala isso. - Ele segurou a mão de Charlotte. - Você é uma pessoa incrível... quem não iria querer alguém assim como você?
-Obrigado, mas isso é diferente. - Ela voltou a olhar pra baixo. - Enfim, minha mãe biológica me deixou na porta da minha mãe de criação... e eu, bem... tinha uma gata comigo quando me encontraram. Literalmente, uma gata. - Ela se lembrava da gata e sorria. - Me falaram que ela era branquinha e de olhos azuis... e que ela não deixava ninguém chegar perto de mim.
-Onde está a gata agora?
-Bem, eu não sei. - Ela fez uma pausa. - Simplesmente num dia ela desapareceu e não voltou mais.
-Sinto muito.
-Obrigado...
O silêncio voltou novamente. Só se ouviam os salgadinhos quebrando na boca dos dois.
-Posso te perguntar uma coisa? - Charlotte perguntou a Jack.
-Claro. - Ele não parecia nervoso.
-Por que a gente tá junto, pra você? - Ela foi econômica com as palavras.
-Como? - Jack não entendeu a pergunta.
-Sabe, eu sou uma pessoa bem difícil de conviver... pode não parecer, mas sou. A gente se conheceu não faz nem uma semana e a gente praticamente já namora... por que você acha que isso aconteceu?
-Eu acho que nós dois estávamos com muitos problemas na cabeça. - Ele fez uma pausa. - E os dois tiraram os problemas um do outro.
-É, pode ser. - Falar sobre sua verdadeira mãe não fazia bem a ela. - É que eu não sou muito de confiar nas pessoas depressa... mas quando eu confio, eu me apego muito. Entende?
-Eu sei, entendo. Fica tranquila. - Ele passou a mão no cabelo dela. - E pra você? Por que a gente tá junto?
-Eu tava com muitos problemas. - Ela fez outra longa pausa. - Eu não precisei confiar em você, já sabia que era confiável por algum motivo. - Outra pausa. - É estranho, mas parece...
-Amor a primeira vista? - Jack completou antes de ela falar.
-É. - Ela riu. Pareci que o humor estava voltando. - Eu não acreditava, mas agora acredito. - Ela soltou mais uma risada.
-É, eu sei como se sente. - Ele também riu.
-Posso te contar uma coisa? - Charlotte queria revelar um segredo.
-Tudo que quiser.
-Lembra quando eu te falei que eu roub...
Um barulho de galho se quebrando interrompeu Charlotte
Vinha de uma árvore perto deles.
Os dois olharam pra cima tentando ver o que era.
-Isso tá estranho... - Disse Jack sem saber o que fazer.
-Muito... - Charlotte ainda tentava descobrir o que estava acontecendo.
De repente outro galho caiu do lado deles.
-Jack, acho que a gente devia ir pra outro lugar... - Charlotte sugeriu. - Não parecem animais...
-Vamos. - Jack já pegava as coisas.
Nesse momento um homem pulou da árvore e caiu de pé, na frente deles.
Os dois se levantaram assustados.
Jackson levantou tão rápido que tropeçou na própria perna e caiu para trás.
Charlotte ainda continuava em pé.
Eles viram o que parecia ser um homem usando roupa azul e com algumas estrelas em uma máscara que usava (e uma grande estrela no peito).
-É ele. - Jack olhou pra Charlotte. - Eu vi esse cara quando tava na sua casa!
-Você... - Charlotte olhou fascinada pro homem. - você me salvou uma vez... por que continua me seguindo?
-O que? - Jack ficou paralisado com a revelação de Charlotte.
-Eu te vi quando ajudei aquelas pessoas no banco e você nem se moveu pra ajudar. - Ela fez uma pausa. - Agora você vem aqui e atrapalha minha noite com meu namorado? - Outra pausa. - Qual é seu problema? Você tá me seguindo?
-Não é o que parece. - A voz do homem assustou os dois, principalmente a Jack. Era uma voz grossa e sem vida, sem sentimentos. - Eu não estou te seguindo pra atrapalhar sua vida. Estou te seguindo porque não quero que você se machuque. Quero te ver bem...
Charlotte não sabia o que falar.
-Uma garota tirou uma foto sua já faz algum tempo. - Ele fez uma pequena pausa. - Estou trabalhando para identificar quem é a menina, mas já te digo que não é boa companhia.
-Isso é besteira. Não vi nenhuma menina aqui... - Ela não acreditava. - Saia daqui. - Disse Charlotte, com autoridade.
-Como queira. - O homem virou para trás e deu passos pequenos, seguindo o rumo na escura floresta.
Charlotte e Jack se olharam enquanto o homem saía.
-O que você não tá me contando? - Jack pareceu desconfiado de Charlotte.