Meu nome é Elizabeth Bittencourt Boyer, mas cá entre nós, pode se referir a mim apenas como ''Eliza'', ''Liz'' ou até - se for um pouco audacioso - ''Beth''. Eu honestamente não gosto que me chamem de Beth, mas como não vou te ouvir ou ler você me chamando deste tão intrigante sobrenome, simplesmente vou fingir que você nunca referiu estes conjuntos de letras conhecidos como palavras para mim. É irrefutável que Elizabeth é um dos poucos nomes com o qual me identifico e um dos poucos nomes que servem para todas as idades. Quer chamar um bebê de Elizabeth? Chame. Quer se referir à uma senhora como Elizabeth? Se refira a vontade.
O nome diz muito sobre as pessoas e ao mesmo tempo não diz nada. Provavelmente as primeiras conclusões que você tirou de mim foi que sou uma garota comum, comportada, respeitosa, intelectual, estudiosa e até um pouco ''nerd'' - odeio esta palavra simplesmente por odiá-la. - mas será que eu sou isso mesmo? Eu simplesmente poderia dizer que sou isso tudo e sou bonita, de olhos azuis esbeltos e chamativos, ruiva com um cabelo super liso - ou dependendo da sua preferência, até cacheado - e com aquelas sardas fofinhas por toda as minhas bochechas, mas não seria verdade. Enfim, me perdi no assunto.
O nome de uma pessoa cria um retrato de primeiras impressões dela, mas não diz quem ela é. Sei lá, uma Elizabeth algum dia já pode ter sido uma ladra ou uma presidente, uma assassina ou uma policial, uma doente ou uma sã. É fato que todo mundo um dia já deve ter se considerado uma pessoa doente, mesmo que só tenha pegado uma simples alergia ou algo do tipo, mas me refiro a este tipo de doença - que nem a alergia - como o ar. Isso mesmo, como O², oxigênio, em outras palavras. Mas por quê você diz isso, Liz? Bom, minha querida companhia, você provavelmente já teve alergia ou pegou uma gripe e passou por ela tranquilamente e sem desespero porque sua querida mamãe lhe deu alguns remedinhos, te deixou faltar de aula e lhe fez uma belíssima canja - que por sinal, eu odeio -. Porém, essa doença é como o ar: ela te rodeia e te envolve sem você perceber, entra no seu organismo naturalmente e muitas vezes voluntariamente e você já não se lembra da última vez que ficou doente com uma doença como essas, assim como não se lembra da última vez que parou pra pensar que você está respirando um gás da atmosfera. Por obséquio, se errei minha dedução, deduzo que: ou você fica muito doente muitas vezes por ano ou que você está estudando química ou qualquer coisa em relação ao oxigênio que você nunca guardará depois do ensino médio. Acertei?
Agora você deve estar pensando que sou muito realista, poética, ou até cheia de existencialismo, mas, será que sou mesmo? Poética posso considerar, mas as outras duas não.
Aliás, quer ver um dos meus belíssimos - minha mamãe que não faz canjas para mim me disse que eram belíssimos - poemas? Bem, eu não sei a resposta, portanto:
O que tu queres?
O que procuras?
O que almejas?
Por quê já não mais fulguras?
Não me responda, não quero ouvir
Penso na verdade falsa que de sua boca
Está pronta pra sair
Sem ao menos, como um espelho trincado, sobre o assunto refletir.
As mentiras estragam o que está estragado
E corroem o que está concertado
Quebram as paredes da sanidade
E lhe enchem de vaidade.
Por quê hás de mentir?
Por quê hei de acreditar no que tu falarás?
É minha mente que é muito flexível
Ou sua verdade pouco compreensível?
Gostou? Bem, eu também não vou saber a resposta, mas espero que ela seja sim, senão... - senão nada, sou apenas uma garotinha de 16 anos tão violenta como um poodle tosquiado -
Por quê eu fiz um poema sobre mentiras? Bem, eu também não sei. Ele só surgiu na minha cabeça e minha caneta fez o resto.
Parei pra refletir um pouco depois que escrevi ele e pensei que o poema era direcionado pra mim mesma. Não eu mesma Elizabeth Bittencourt Boyer, mas sim à Lucine. Lucine é o meu TOC, ou, para os mais íntimos, Transtorno Obsessivo Compulsivo. É esse o nome que eu dei a minha doença mental. Lucine.
Cheguei a conclusão de que precisaria de um nome pra isso simplesmente porque tentei o tratar como outra pessoa civilizada neste mundo globalizado, esperando que as simples palavras ou pensamentos ''Saia daqui e nunca mais volte'' resultaria em algo. Enfim, é bobo mas eu tentei isto.
Você não deve saber bem o que é ter algo como a Lucine, - e, se sabe, sabe que as Lucines dificilmente se deixam levarem por palavras ou pensamentos - e não te culpo por isso, afinal, eu mesmo não sabia antes de ter ela.
Pra você entender o que eu quero te dizer, siga minha linha de raciocínio: você está andando normalmente no pátio de sua escola ou no trabalho - ou até na rua - e simplesmente você olha pra uma pessoa negra e pensa involuntariamente ''eu te odeio, odeio sua cor, odeio seu cabelo, odeio você'' e depois disso você se tortura mentalmente pensando ''não, eu não te odeio, eu gosto de você, eu amo você, eu amo sua cor, eu amo seu cabelo'' e quanto mais você tenta contradizer a Lucine, mais ela te ataca com as palavras ruins (que vão piorando até chegar em ofensas).
''Ah, mas é só ignorar'' você deve estar pensando. Porém, se você simplesmente ignora a Lucine na sua cabeça, você ainda se tortura mentalmente pensando ''eu ofendi essa pessoa e não rebati as ofensas que fiz a ela''. Pois é.
É fato que é só você pensar que foi ''a Lucine que fez'', mas você não deixa de pensar que ela é uma parte de você.
Olha, eu não sou muito de me abrir pras pessoas, então é só isso que vou dizer da Lucine por enquanto - o que já foi muito pra mim -.
Enfim, se lembra de quando eu estava me referindo que eu podia escrever qualquer coisa aqui e você iria achar que é verdade? Pois bem, quando disse que podia me descrever como uma bela ruiva com sardas - e até fofas covinhas - eu já lhe avisei que era mentira, então percebi agora que você não tem um retrato de mim guardado na sua cabeça. Pode ser que você ache que eu sou um pouco gorda de cabelos enrolados, magra de cabelos lisos - e se for ingênuo, ruiva de belíssimas sardas e covinhas -, mas, na verdade, sou uma simples moça de 16 anos de cabelos lisos e castanhos claros um pouco abaixo da altura dos ombros, de olhos verdes - que eu sempre paro no espelho para ''refletir'' sobre a beleza deles. Sacou a piada? - , com um nariz um pouco grande e uma pele cheia de pintas - principalmente na parte das bochechas, fazendo-as parecerem um formigueiro cheio de pontinhos. -. Fora isso, eu sou tão magra como um palito. Acho que se eu fizesse bungee-jumping, ao pular, eu ia disputar quem voava mais contra os passarinhos.
Falando em animais, eu tenho apenas um bicho de estimação na minha casa - especificamente, em cima do criado do meu quarto - : meu peixe Nicolas. É, eu não entendo muito de peixes mas eu acho ele bonitinho pra um peixe. Ele é tipo o Nemo de Procurando Nemo. É o que você precisa saber sobre ele.
Eu meio que descrevi quem eu sou pra você, mas você acredita em tudo que eu, Elizabeth Bittencourt Boyer, falei?
